sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

«Os anos doces» de Hiromi Kawakami :: Opinião


Depois de ter ficado rendida ao ambiente que a escrita de Kawakami é capaz de criar em «Manazuru» (opinião aqui) tive de ler «Os anos doces» e perceber que a autora consegue criar todo um outro ambiente mas na mesma em torno de uma mulher e dos laços que cria. 

"Talvez porque com ele tivesse a impressão de viver com maior autenticidade...
Era uma impressão curiosa, comparável àquele sentimento estranho que nos leva a não retirar a cinta de um livro recém-adquirido."

Se em «Manazuru» que é um livro cheio de luto, mistério e solidão, conferindo uma aura de enorme fragilidade a Kei, a personagem feminina, que ao se debater com o desaparecimento do marido vive uma maternidade dividida e um regresso à casa materna; em «Os anos doces» Tsukiko é uma mulher independente, mas confusa com as exigências feitas à mulher e com as quais ela não se identifica propriamente, além disso, despreza inclusive algumas delas, talvez aquela que dá todo o ambiente ao livro: o prazer de comer e beber. 

"Felizmente tinham desistido de me pressionar para que me casasse e deixasse de trabalhar. Mas sentia-me pouco à vontade. Era mais ou menos como quando se experimenta roupa feita à medida: há sempre peças que ficam curtas, outras compridas (...) espantada, uma pessoa despe-as, mas constata, ao colocá-las à frente do corpo, que haviam sido realmente talhadas no tamanho certo. Enfim, sentia uma coisa desse género nas alturas em que estava com a família."

«Os anos doces» representam um período de bons encontros comensais entre Omachi Tsukiko e o seu antigo mestre de Japonês enquanto se envolvem numa relação peculiar mas sempre entregue aos prazeres da boca. «Os anos doces» é um livro que faz crescer água na boa.

"Traga-me, por favor, almôndegas de sardinha e fatias de rabanete .
- Eu queria um rolo de pasta de peixe e alcachofras chinesas. E fatias de rabanete também, se faz favor - pedi, sem querer ficar atrás dele. O cliente da mesa ao lado pediu algas..."

Matsumoto Harutsuma é o mestre, um homem mais velho do que Tsukiko e que exerce uma força subtil mas intensa sobre ela, bastava-lhe um sorriso: "(...) Havia algo de diabólico por detrás daquele riso. Algo que lembrava o riso de um miúdo que acaba de esmagar uma formiga." E dessa forma, com trejeitos simples e quase infantis, o mestre prendia-lhe a atenção e o pensamento.

O tempo vai avançando desde a época da apanha dos cogumelos, ao festival das cerejeiras ou à estação das chuvas, entre muitas garrafas de saké, inúmeras formas de comer tofu e uma ou outra iguaria que nos fazem crescer água na boca: "(...) beringelas frescas laminadas e salteadas, cobertas com molho de soja com aroma de gengibre. Couve macerada no miso..."

«Os anos doces» são um retrato delicado de uma relação difícil de definir, onde há, sem dúvida, uma exaltação do prazer de comer e uma comparação entre amor e comida, talvez na complexidade de definir o gosto de cada um.


quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

«Pão de Açucar» de Afonso Reis Cabral - Opinião




"(...) soube que me oferecia tudo o que eu procurava: a colisão de mundos em perigo, o conflito dos intervenientes com ele no centro, a problematização do corpo, as consequências da miséria, essa palavra que já não se usa mas ainda se aplica, o equilíbrio entre o desespero e a esperança. Quer dizer, nada de especial. 
A partir daí, pesquisei os acontecimentos a fundo.
Li o processo judicial sem parar, (...)"

É em conversa com um interveniente das zonas sujas, Rafael Tiago, que Afonso Reis Cabral parte para esmiuçar a ideia central deste «Pão de Açúcar». A morte violenta de Gisberta, facto verídico (Porto, 2006), confere a este romance o lado mais negro de uma sociedade que alimenta e faz crescer crianças que se tornam adolescentes desajustados e desapegados de valores ficam muito aquém dos desejados. 

"(...) A bicicleta ainda não se tornara real, faltava dá-la a conhecer. Assim é com desgraças e felicidades, partilhamo-nas para mediar a emoção. Mas então pensei, qual alegria qual tristeza, era só sucata despejada com outras porcarias. Calei-me porque achei ridículo, angustiante também, que o lixo de um fosse o entusiasmo de outro."

É no meio do lixo e da doença que uma amizade frágil e intermitente se dá, satisfazendo necessidades de atenção de ambas as partes e reciclando os restos de uma bicicleta, entretanto, entre visitas, a violência e os ânimos exaltam-se e resultam na morte de um transsexual seropositivo e sem abrigo.

"Ela meteu a ponta do indicador no arroz, experimentou um bocado, e depois já punha a mão inteira, já dizia «Está quente!», engolindo com gozo e fazendo os gemidos de quando o ser humano é bicho. (...) Ávida de limpar o lado dela, não reparava na minha cautela. 
Apesar de contente por vê-la satisfeita, a imagem da doença babada para a panela fez-me nojo. (...)
Contudo, o nojo persistia como as tareias que se apanham na infância e nos deixam o corpo dorido até ao fim da vida."

O cenário não podia ser mais degradante e é em si uma personagem que sublinha a critica social, alertando para um problema que persiste em tantas cidades de norte a sul do país; prédios abandonados aos quais os interesses económicos ou os imbróglios jurídicos não deram seguimento e que são focos promotores de miséria. 

"(...) O esqueleto não dava hipermercado. (...)
As ratazanas foram as primeiras. Ainda as obras decorriam e já elas se aninhavam nos cantos. (...)
À noite, os ocupantes dormiam em barracas improvisadas com caixotes, toros, cartões, plásticos e colchões. Melhor dito, dormiam em lares com toques de luz a conquistar o cimento. A ruína sobrevivia à frustração e sublinhava-se: era só gente a dormir.
(...) Para ser útil, não bastava abrigar pedintes, segredos, porrada, troca de seringas, orgasmos e gestos brandos. Não, para ser útil, havia que inaugurar um parque de estacionamento."

O livro é rico nas cenas de convívio entre os jovens e no Pão de Açúcar com Gisberta, mas também dá saltos temporais que levam o leitor a conhecer as duras realidades que ali chocam. Os capítulos oscilam entre o presente de Rafael como mecânico, o lar/abrigo onde os jovens foram criados e a pensão onde Gisberta se prostituía, bem como momentos específicos de algumas daquelas vidas. 

"A determinado momento, a Gi passou-lhe a mão pelo cabelo e ele aceitou a carícia com uma naturalidade que eu nunca igualaria. A naturalidade de quem lida desde pequeno com travestis. Para mim foi como levar uma flechada na cabeça: ser assim afagado era mais do que muita gente podia esperar da vida."

Entre alimentar Gisberta e auxiliar Rafael no arranjo da bicicleta, outros episódios acontecem entre os restantes jovens, ainda assim, e mesmo o leitor sabendo o fim, não parece existir nada de decisivo para que a violência ocorra e persista dia após dia. Talvez as circunstâncias, o acaso, a revolta, a desesperança e a solidão... Talvez. Mas isso e muita falta de carinho.

"Dali veríamos as coisas de outra maneira, os problemas ficariam na cave. Os dela, a morte que a comia por dentro, que a obrigava a abdicar a cada dia; os meus, saber que a necessidades de a ajudar só fazia sentido por ambos não termos mais ninguém."



terça-feira, 18 de dezembro de 2018

«O coração é um caçador solitário» de Carson McCullers :: Opinião



«O coração é um caçador solitário» de Carson McCuller é um livro carregado de solidão!

Ao longo de mais de trezentas páginas acompanhamos a tristeza e a solidão de John Singer, mudo mas ouvinte e confessor de um leque vasto de outras personagens, entre elas: Antonapoulos, o grego, também ele mudo; Mick, uma rapariga em debate com a chegada da idade adulta; Jake, bêbado e reaccionário laboral; o doutor Coupland, um médico negro ou Biff Brannon proprietário do New York Café.

"(...) alguns homens optam por se distanciarem dos seus sentimentos, e assim evitam ser consumidos pelos mesmos. Projectam-nos noutro ser humano ou mesmo numa ideia ou num conceito."

"O restaurante ainda não estava cheio. Àquela hora, os homens que haviam passado a noite a pé cruzavam-se com aqueles que tinham acabado de acordar (...). Não se ouvia barulho, nem as pessoas a conversar, pois toda a gente estava sentada sozinha. A desconfiança mútua entre os homens (...) conferia a todos a sensação de alienação."

É entre projecções e desconfianças que vamos conhecemos as histórias tristes destes personagens, todos eles sós, taciturnos e fechados sobre seus dramas, que normalmente são os dramas comuns e intemporais, mas a extensão de dada a cada drama e a densidade que McCuller confere a cada personagem é feita com descrições breves mas extraordinárias; capazes de viciar o leitor naquele enredo, onde cada personagem parece entrar numa competição pela vida mais miserável. 

"O proprietário leu o bilhete e lançou um olhar atento e cheio de tacto a Singer. Era um homem de estatura mediana, com uma barba escura e espessa que a parte inferior do seu rosto parecia de feita de ferro. (...) Todas as noites, o mudo passeava sozinho pelas ruas da cidade (...). Gradualmente, a sua agitação foi dando lugar ao cansaço (...).
O seu rosto revelava a paz taciturna típica das pessoas profundamente tristes ou profundamente sábias."

No entanto, noutras breves descrições McCuller eleva a importância de pequenos gestos que salvam o quotidiano desses mesmos personagens tristes. Não os priva do sofrimento, mas fá-los acreditar, a eles e a nós leitores, na possibilidade de redenção pela amizade, mesmo que por breves momentos. Exemplos disse são as descrições dos carroceis ou das noites em que Mick procura escutar a música que sai das outras casas. E o melhor é que McCuller cria estes cenários em uma, duas frases breves. 

"Essas noites eram secretas e eram o período mais importante do Verão inteiro. Na escuridão, Mick caminhava sozinha como se fosse a única habitante da cidade. (...) Quando ia até às zonas mais abastadas da cidade, todas as casas tinham rádio. As janelas estavam abertas e ela escutava a música na perfeição. (...) escondia-se na escuridão à escuta."

Distinguir entre pessoas tristes e sábias ou revoltadas e sábias e se são pequenas ou não as conquistas diárias de cada um (quando as há) torna-se irrelevante quando compreendemos o que preocupa cada um e vemos problemas sociais de hoje: exploração laboral, racismo, desigualdade de género e a solidão que é uma doença tão potente quanto as outras, mas muito mais difícil de identificar, e aí o livro é ainda melhor e dá às personagens as várias máscaras que a solidão pode ter: revolta, insegurança, melancolia, luto ou até a homossexualidade. 

"(...) o mudo era o seu único amigo. Passavam imenso tempo juntos, sentados no quarto silencioso a beber as cervejas. Ele falava e as palavras reflectiam as manhãs escuras passadas na rua ou sozinho no seu quarto. As palavras ganhavam forma e eram proferidas com alívio."

Já tendo referido tanto do que este livro aborda ainda falta referir a alienação própria e inerente a cada personagem, o peso da deficiência ou a violência contra os negros e a fé na palavra de Deus como única salvação. Mesmo assim tudo isto é pouco. Há mais, muito mais, camuflado nas palavras depositadas uma amizade silenciosa com o surdo-mudo Singer. 

"Ela falava e ele não compreendia. (...) Era como se a sua cabeça fosse a proa de um navio e os sons fossem a água que batia contra o mesmo, para depois seguirem em frente. Ele sentia necessidade de voltar atrás, à procura das palavras que já haviam sido proferidas."

Mesmo que neste livro tudo seja dramático, escuro, sofrido, miserável e cheio de arrependimentos, a mestria com que Carson McCuller escreve, cura qualquer ressentimento deixado no leitor pelo destino das personagens. É um retrato duro, mas poderoso, da condição humana. 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

«A história de uma serva» de Margaret Atwood :: Opinião



«A história de uma serva» livro que deu origem à tão badalada série televisiva que em 2017 ganhou um Emmy na categoria de Drama foi escrita em 1985 e, perante tal galardão Margaret Atwood afirmou que a sua narrativa especula sobre um futuro assustador é ainda mais assustador se assumirmos que a mesma tem contornos de documentário pelas circunstâncias sociais asfixiantes que marcam a actualidade. 

A história que a Serva narra é a pouca que lhe é permitida numa sociedade onde quase tudo é proibido às mulheres, até o uso do seu próprio nome. Porém, os patamares sociais distanciam muito as mulheres desta sociedade totalitária e fortemente religiosa. O regime instituído espartilha um quotidiano resumido às tarefas domésticas e a certas práticas sociais restritas, onde cabe às mulheres o papel que os homens interpretam das escrituras: casamento, manutenção do lar, procriação e obediência ao marido. 

Atwood criou assim um casulo preso a raízes puritanas e cerimoniosas, onde as Servas vivem mais restringidas do que as demais mulheres; são elas as responsáveis pela descendência, são elas as mães da nação de Gileade. Porém, não são elas as mães que darão colo ou afecto, elas são as Servas, a sua missão é parir, até lá, são o depósito da semente (e esperança) dos comandantes, os grandes senhores e líderes de Gileade. As Esposas zelam pela família, controlam Servas e Martas (basicamente criadas) e organizam pequenos festins comensais para celebrar sementes bem lançadas e partos com nados vivos, para além de tomarem parte na Cerimónia mensal. Rituais que chegam a ser chocantes aos nossos olhos de hoje, mas que, com traços verdadeiros, têm origem em tradições do fanatismo religioso. Assustador é o mínimo que se pode pronunciar e que o leitor sente em certas passagens mais descritivas.

A narrativa assume o pensamento fragmentado de June, a Serva protagonista, com saltos temporais tão necessários para a sua saúde mental, como para o leitor perceber como se chegou aquela sociedade tóxica e recente. Ao mesmo tempo mostra a luta quotidiana de uma mulher, outrora livre e independente, numa tentativa de se adaptar a esta nova realidade e provar o seu valor de mulher fértil, ou seja, engravidar do Comandante a quem serve. 
Provar ou não o seu destino: engravidar; faz a sua vida ter valor e continuar integrada na sociedade ou ser desterrada para as Colónias: um local envenenado pelos erros (ambientais?) do passado, onde só se vai para trabalhar e morrer vítima de radiação. 

Todo este relato tem um silêncio constrangedor e de falsa resignação e dele resultam inúmeros códigos e significados partilhados entre as Servas e as Martas. Nos seus olhares, cheios de desconfiança mas também de empatia, desenvolve-se um sistema paralelo e secreto que visa salvar estas mulheres e contrariar a profunda estratificação da sociedade.

No resguardo que é obrigatório a estas mulheres vê-se o quanto este livro é anti-utópico e com uma voz reivindicativa, contrariando teorias de felicidade máxima e concórdia entre os cidadãos de um regime totalitário. A denúncia que aqui se faz é feroz e reduz o totalitarismo a um único termo: primitivo. E faz dele estandarte para denunciar igualmente como é primitiva e bárbara a violência e os condicionalismos exercidos sobre as mulheres. Para além disso, há um traço ténue mas sempre presente, de uma critica social pesada e facilmente transferidas para os dias de hoje. E assim se justifica a intemporalidade da escrita de Atwood.

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«A história de uma serva» de Margaret Atwood é uma das melhores leituras de 2018!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

PASSATEMPO 1 -- "Natal vegan e saudável"


PASSATEMPO 1 

"Natal vegan e saudável" em parceria com Um Curso em Sabores


Oferta de 2 livros com mais de 250 receitas vegan: 

sopas e entradas; molhos, marinadas e temperos 
saladas, massas e quiches
sumos e smoothies 
veggie burgers 
indiano e mexicano
superalimentos
doces e sobremesas 

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REGRAS PARA PARTICIPAR
Siga o link para o post no facebook 


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O passatempo decorre até ao final do dia 16/12/2018.
Os livros serão enviados por Um Curso em Sabores.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

«O Poder» de Naomi Alderman - Opinião



«O Poder» parte do pressuposto de inversão do poder institucionalizado, ou seja, a transferência do poder dos homens para as mulheres. Mas não só. As mulheres têm uma energia electrizante, capaz de alterar o significado mais alargado que atribuímos ao poder. «O Poder» que aqui lhes brota das mãos, talvez metáfora para a forma como Jesus fazia milagres, é uma força extrema capaz de torturar, invocando uma dor excruciante capaz de levar à morte. 

Esta força devastadora, como todas as forças, abre possibilidades para os seus detentores, que abençoados por esse poder podem praticar o bem e atribuir papeis mais justos ou decidir-se pelo mal e provocar uma reviravolta total na natureza das coisas. E é precisamente essa reviravolta e inversão que é o mote do livro. O poder total está do lado feminino e também anos de revolta e desigualdade, resta saber se o Mal, antes de erradicar a desigualdade, irá antes provocar um certo caos e violência, às vezes necessárias para despertar mentalidades. 

"A forma do poder é sempre a mesma; tem a forma de uma árvore. Das raízes às pontas, o tronco central ramificando-se e voltando a ramificar-se, alastrando sempre com dedos cada vez mais finos e exploradores."

A forma como esta distopia é desenvolvida e o recurso que faz a algumas imagens, levou-me a pensar em outros livros. Acho-o inseparável do «A história de uma serva» de Margaret Atwood (os traidores de género ou os homens necessitarem de uma guardiã feminina), quase um livro-resposta, vingando a submissão a que as mulheres são expostas como servas. Mas o lado que remete ao ancestral, à origem de certas gravuras que vão sendo reveladas, fez-me pensar em «A Fenda» de Doris Lessing, livro esse cheio de feminismo e de como as mulheres devem ter sempre papeis decisivos. 

Claro que todo o enredo é uma típica luta entre o Bem e o Mal e o livro assume essa luta de forma muito actual e cinematográfica recorrendo para isso a personagens bastante jovens e de diferentes meios sociais. Facilmente conquistará uma adaptação para série televisiva. No entanto e talvez pelo tom juvenil ou por estar constantemente a ligá-lo a outras referências tive dificuldade em apreciar a leitura e em acabá-lo. As gravuras e o lado de possibilidade histórica tribal captaram a minha atenção, mas o enredo em si não. Deverá ser um livro bastante interessante e desafiante para ser lido pelos mais jovens e até em contexto escolar.


«Salvação» de Ana Cristina Silva - Opinião


"Não grito menos, talvez grite mais baixinho, não choro menos, mas talvez as minhas lágrimas se tenham tornado menos silenciosas. Pela aritmética passaram seis meses desde a morte de Sofia, pelas minhas contas não passou nem um dia."

"Salvação" é um livro de recolhimento na morte e de superação pela escrita. Ou do processo de criação de personagens com as quais se reconstrói um sentido para a perda, o luto, mas também o perdão.

"Eu e David Negro recolhemo-nos na morte da mulher amada e tornámo-nos um só. Esta absorção de um no outro explica que tenha conseguido escrever um capítulo num único mês como se a minha personagem tivesse pegado na minha mão e redigisse por mim as frases."

Colonizado pela dor, o narrador deste livro dedica-se a preencher os seus dias com a escrita de um romance, um novo livro imposto pelo mulher que acabou de falecer, um pedido feito estratégia para que ele supere o luto.
Dividido em pouco mais de doze meses, acompanhamos os capítulos de "O Livro", escrito também sobre o luto e a perda de uma filha, onde o protagonista David Negro expõe as suas mágoas, memórias e reflexões. Ao mesmo tempo, em capítulos que são as fases de luto do narrador, vamos sabendo mais da sua vida com Sofia e do seu dia-a-dia lutando pela superação.

"Desde que a minha mulher morreu o meu luto tornou-se num dilúvio que não deixa espaço para mais nada. A dor não é um local iluminado (...) Mas neste momento, sinto que a jornada de David Negro se transforma num dever que vai para além do pedido de Sofia, ainda que esse percurso não esteja, nem nunca possa estar, separador dela. Até porque é minha intenção apontar o dedo ao deus a que ela tanto rezou e aprisioná-lo numa rede de acusações."

No longo corredor que é o luto e no qual não é possível passar a correr, o narrador embrenha-se numa complexa rede de memórias, no sofrimento e na culpa, sem esquecer acusações e dúvidas, onde Deus tem um papel decisivo, mas a História e o seu curso também. A forma como "O Livro" percorre séculos, o rumo dos eventos chega até aos actuais e as inquietações ancestrais são equiparadas às de hoje: as crises de fé e de valores e as consequências no ser humano. E assim, desta forma, Ana Cristina Silva cava ainda mais fundo o fosso do abandono e da culpa, retratando muito bem o lado emotivo dessa pressão psicológica.

"Continuo a falar com a minha mulher, mas lentamente a morte de Sofia vai deixando de ser a medida de todas as coisas. (...)
Se a dor tivesse assas e batesse, diria que o seu movimento se foi tornando mais suave (...) Porém, o sofrimento do luto não voa, apenas pulsa por dentro (...) tanto assim que só vivo para me afundar na memória dos tempos felizes."

Se retirássemos os capítulos que dizem respeito à escrita de "O Livro", a maneira como a autora relata a perda e a dor é de tal forma emotiva e insistente que traz o leitor para o sofrimento do narrador, tornando a leitura quase aflitiva. E quero com isto dizer que é extraordinária essa capacidade, pois não acho que caia na repetição, mas sim aumentando a densidade psicológica do personagem.

"(...) Em cada intervenção, ele alcança um novo patamar de profundidade, frases empolgadas, quase poéticas - como se existisse uma estética da morte - (...)"

Também seguindo uma estética da morte, associada à própria estética de fé e crença, "O Livro" transforma-se num romance histórico que denuncia e relembra o fanatismo religioso do século XVII e o liga aos eventos violentos actuais para os quais o próprio escritor se sensibiliza quando o luto lhe permita se ligar novamente à realidade que o rodeia: a morte no espectro do fanatismo jihadista.

"Há um momento em que tenho o mais absurdo dos pensamentos: talvez estivesse a ver repetidamente o mesmo grupo de pessoas a sofrer o mesmo atentado (...) Como se aquelas pessoas não tivessem individualidade, como se se tivessem convertido num borrão desfocado de um ecrã, como se a morte se tivesse tornado uma banalidade."



quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

«Jogos de raiva» de Rodrigo Guedes de Carvalho :: Opinião



Rodrigo Guedes de Carvalho escreve como quem atalha pelo mato. Muitas frases curtas como passos decididos mas que a falta de trilho obriga a recuar e a escolher outro sítio onde pisar. Repetem-se palavras, gestos, passos. Nessas insistências, uns quantos arranhões, dilacerando aqui e ali as pernas com que quer percorrer o resto do caminho. A mata é densa e os obstáculos exigem esforço e persistência. A mente, entregue mais aos pensamentos do que ao que palmilha, avança e reage, conforme o que o terreno pede. E se isto for metáfora suficiente para descrever, pela rama, a escrita do autor, não é suficiente para explicar o tamanho do enredo e das personagens deste livro.

"É tão difícil resistir quando nos elogiam, quando nos querem tudo o que em nós é inteligente e desconfiado se verga por vezes à cauda do pavão."

«Jogos de raiva» fala do mundo inteiro visto da janela jornalística deste externo ocidental, na mesma medida gigantesca que cava fundo um fosso familiar. Raiva, ódio, desenraizamento, memórias ou a incerteza de todas as mudanças e falsidades actuais, são apenas alguns dos grandes motes deste livro; e a forma como esses temas se transformam em sentimentos e nos entram pela casa adentro também. 
O romance expõe um olhar crítico e ácido denunciando como a actualidade afecta e condiciona e claro, molda a vida familiar. Isso tudo sem esquecer a equação complexa que é a vida por si só e o peso do passado. 

"Dividido por secções, para melhor organização do consumidor, o jornalismo só tem verdadeiramente uma área, que engole o mundo inteiro: nós. (...) 
O jornalismo, na verdade, não é realmente necessário para que o mundo gire e progrida, (...) nós viveríamos sem ele. (...) O jornalismo é só um espelho na parede, não é o cimento que sustém a casa. (...) O jornalismo não é água ou comida ou abrigo ou medicamentos. Só existe porque queremos saber do resto de nós. Somos animal de grupo. Queremos espelho e o jornalismo pendura-se à nossa frente."

As reflexões presentes no livro podem ser interpretadas à luz do tema específico ou como metáfora alargada a várias áreas da vida familiar e em sociedade. O tom crítico nunca se perde, bem como a tensão e o enigma em torno da família Sereno: "O problema dos segredos é que não são biodegradáveis. Não desaparecem só porque os amarramos a uma pedra pesada e os lançamos ao rio." 

Também muito presente no livro, são as referências constantes a Virginia Woolf, Oscar Wilde ou Tim Burton, talvez como pedras-de-toque para reforçar a qualidade e o sentido das revelações que conferem reviravoltas na vida das personagens. Ou para aferir a necessidade das obras de artes na nossa vida. Farão falta as pinturas, os livros, a música ou filmes? Fará falta o livro «O Fantoche» que Francisco Sereno irrompe a escrever? 
São essas reviravoltas que podem estar imiscuídas nas brechas que o jornalismo tem e onde esconde meias verdades, ou nas redes sociais, cheias de zonas cinzentas que dificultam a divisão entre o bem e o mal ou na relação entre pai e filho, que discutem como se a vida não fosse finita e o fim não chegasse de forma inesperada.

O inesperado acontece várias vezes ao longo do livro, com pequenos retornos ao passado, precipitando o leitor em conclusões que saberá logo a seguir serem erradas. E esse é um jogo ainda maior que Rodrigo Guedes de Carvalho estabelece com os seus leitores. Joga com perspicácia, aguçando a curiosidade do leitor. No entanto, existe uma passagem, quase logo ao início que espelha muito bem o que o autor engendrou para este livro: "Há uma brutal exigência na psiquiatria e são poucos os que a antevêem quando se decidem pelo ramo. Ser, entre todos, um curador de almas. Vestir uma túnica e abrir os braços. Deixai vir a mim os depressivos, os dementes e esquizofrénicos, os ansiosos e os bipolares. Pretende-se do que resgata almas um primado de razão rodeado por irrazoáveis."

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

«Se esta rua falasse» de James Baldwin :: Opinião

Alfaguara, 2018


Com mais de 40 anos desde a publicação original, «Se esta rua falasse» (1974) é a primeira obra de James Baldwin (1924-1987) a ser publicada em Portugal, um ano depois de termos tido a possibilidade de assistir ao documentário "Eu Não Sou o Teu Negro" e a obra do autor ganhou projecção bem como os temas por ele abordados: o racismo e a complexidade das classes sociais, juntamente com questões de homossexualidade. 

"A mente é como um objecto que apanha pó. O objecto não sabe, tal como a mente não sabe, por que razão o que se agarra a ele se agarra a ele. Mas, quando algo te atinge, não desaparece..."

A crítica refere-se a este livro como um romance-manifesto, expondo a injustiça, o racismo e a desesperança de uma família negra quando um dos seus é preso injustamente. Falsamente acusado de violação, Fonny é encarcerado e a sua namorada adolescente, Tish, descobre estar grávida. A prisão separa-os e impede-os de prosseguir as suas vidas. No entanto, há mais a separá-los, o racismo e a discriminação social numa Nova Iorque da década de 70 que talvez pudesse ser a de hoje e isso confere ao romance a intemporalidade dos grandes livros, seja por esse ambiente social ou pelo eterno enredo amoroso de amor incondicional.

"Acho que deve ser raro duas pessoas conseguirem rir e fazer amor ao mesmo tempo, fazer amor porque riem, rirem porque estão a fazer amor. O amor e o riso vêm do mesmo lugar: mas poucas pessoas lá chegam."

Ambas as famílias lutam, cada uma à sua maneira e com os seus próprios demónios, para entender a seu papel na sociedade, na família e até na segregação mascarada de tolerância e integração igualitária, no entanto, a acusação e a dificuldade de defender Fonny prova-lhes que a luta pelos Direitos Civis está na ordem do dia. Tal como hoje continua e é denunciada por movimentos como Black Lives Matter, para os quais o nome do autor tem sido chamado, especialmente depois da adapatação de alguns dos seus textos para o cinema.

No entanto, Baldwin não expõe, de maneira usual, o tema do racismo, interessa-lhe antes expor a magnitude da família e demonstrar a igualdade dessa forma; nos relacionamentos que todos estabelecemos, nos pensamentos e memórias ou preocupações que todos temos; fazendo um retrato do íntimo , semelhante a qualquer um de nós, independentemente de cor, origem ou patamar social.

"Pais e filhos são uma coisa. Pais e filhas, outra.
Não adianta tentar compreender este mistério, tão longe de ser simples como de ser seguro. Não sabemos o suficiente sobre nós mesmos. Acho que é melhor sabermos que não sabemos, porque assim podemos crescer com o mistério, à medida que o mistério cresce dentro de nós. Mas, por estes dias, toda a gente sabe tudo, e é por isso que tanta gente anda tão perdida."

Outra particularidade de Baldwin é o tom da sua escrita, de um encadeamento de frases simples e reduzidas, rapidamente saem parágrafos introspectivos, nos quais facilmente lemos a actualidade da sua escrita: "(...) e a chave para a ilusão é a cumplicidade. O mundo vê o que deseja ver ou, quando as coisas não estão a correr bem, o que lhe dissermos para ver: não quer saber quem, nem o quê, nem porquê."

O que torna mesmo pertinente a publicação de autores como este, é a densidade psicológica da sua escrita. Através de uma linguagem acessível a todos, contribuí para a compreensão do outro, mostrando a pressão psicológica inerente ao ser humano que luta por ser aceite e por se compreender a si mesmo.

"As pessoas fazem-nos pagar pelo aspecto que temos, que é também o aspecto que julgamos ter, e o que o tempo inscreve num rosto humano é o registo desse choque frontal."


sábado, 1 de dezembro de 2018

Opinião "Um dia em Dezembro"

Imaginem uma sala cheia com todas as pessoas que já passaram pela vossa vida. Pensem naquela pessoa, sim aquele tipo especial, aquele que nunca esqueceram, o vosso calcanhar de Aquiles, a vossa pedra no sapato, a primeira cara ou nome que sem controlo vos surge na mente quando confrontados com a ideia do "de sempre e para sempre". Lembram-se do dia em que se conheceram? Lembram-se do dia em que perceberam que nunca iam deixar de gostar dessa pessoa? 
Pois, é assim este "Um dia em Dezembro"



Corria 2008 a passos cansados para o Natal quando Laurie vislumbrou na paragem do autocarro aquele que a fez acreditar que o amor à primeira vista não acontece só nos filmes. A indecisão do momento "vai não vai" fez com que os seus caminhos seguissem sentidos diferentes e foram precisos 12 longos meses de procura por toda a cidade de Londres para encontrar O Rapaz do Autocarro. Onde precisamente ? Com o braço à volta da mais do que amiga quase que irmã de Laurie, a espectacular Sarah.
Ninguém merece!

Num voto de silêncio comum e crente de que o outro não se recorda daquele instante fugaz mas marcante, Jack e Laurie tornam-se conhecidos, amigos, confidentes mas marcam sempre a traço forte a linha limite que não poderiam nunca ultrapassar até ao dia em que a vida os faz baixar a guarda e admitir que aquele momento existiu e que por muito que aconteça ele não desapareceu com os anos, por mais que eles passem.

"Caminhas ao de leve pela vida, mas deixas pegadas profundas que outras pessoas têm dificuldade de preencher"

(Opah lembrou-me o Love, Rosie!)

Uma década de evolução pessoal, de amor, de dor, de lições de vida, de infelicidade e também de grandes alegrias.
Este livro conseguiu agarrar-me com força ao ponto de me esquecer do sono e seguir com a leitura noite dentro.
Tem uma característica que me agrada muito, a escrita tem um cunho humorístico muito bom, especialmente nos momentos contados pelo ponto de vista de Laurie.
Oh e como eu adoro romances de natal. Não sou louca pela quadra mas gosto bastante de histórias que se passam nesta altura, que o diga a Netflix e os filmes natalícios que gosto bastante de ver. Este era perfeito para isso 😍
É verdade que este livro não se passa exclusivamente no natal, na realidade, talvez apele ao meu gosto inexplicável por romances impossíveis, aos amores e desamores que se prolongam ao longo de anos....mas vocês já sabem isso, os meus livros preferidos são sempre assim.

Por falar nisso, ando com tantaaaa vontade de reler "Um dia" :)
Um dia...até lá, vamos lendo as novidades.
Que me dizem desta?

Deixo-vos com música.


It weighs heavier on one's heart 
I could tell right from the start that 
Sweet ones are hard to come across 
Well, there is more than meets the eyes 
Heart like yours is rare to find 
Someone else's gain will be my loss


Uma novidade

domingo, 25 de novembro de 2018

Opinião "O Castigo dos Ignorantes"

"O Castigo dos Ignorantes" vem dar continuidade à série da Riskmord e às peripécias da vida de Sebastian Bergman, principalmente agora que sabemos a sua relação a Vanja e o seu conhecimento sobre Billy. Mas este caso é ainda melhor do que os desenvolvimentos nas histórias pessoais dos membros da equipa. Vamos lá falar de "O Castigo dos Ignorantes".



Num mundo em que se dá demasiado tempo de antena a gente acéfala e sem qualquer conteúdo inteligente, como se chama atenção para a cultura, a inteligência e os verdadeiros valores?
Segundo este "O Castigo dos Ignorantes" é preciso entrar a matar e separar o trigo do joio.

O novo caso atribuído à equipa de Torkel Hoglund apresenta-nos dois participantes de reality shows, pseudo famosos, cuja atenção e visibilidade recebida lhes garantiu um encontro imediato com um assassino que tem um método bastante peculiar de avaliar se as suas vítimas merecem ou não continuar a viver. Menos de um terço de respostas certas num teste de cultura  geral e a sua vida esvai-se tão rápido como a sua fama. 
Mas de quem é a culpa da massificação desta cultura superficial e sem conteúdo?
A culpa é destas pessoas que ganham visibilidade com coisas sem interesse ou das pessoas que as seguem e imitam?
Como apontar culpados quando parece que todo o mundo segue o mesmo padrão? O quão alto terá o assassino de ir para transmitir a sua mensagem?
Qual será " O castigo dos ignorantes"?

Curiosamente, eu que até simpatizo com o pensamento que damos demasiada visibilidade à futilidade e tornamos famosos gente que não tem propriamente algo de interessante a transmitir, não passava no teste do assassino. Raios e eu nem me considero inteiramente burra. 
Pior...nunca pensei concordar, em determinados pontos, com um assassino mas neste livro comigo a pensar "oh pah, ele tem uma certa lógica" :O
Acho que devia só ler romances para não me aperceber de coisas assustadoras sobre a minha pessoa.
Este livro, que já é o quinto da série, tornou-se um dos meus preferidos quer pelo caso quer pelos desenvolvimentos na história de cada um deles. Especialmente de Billy! Quem leu o último sabe que as coisas não ficaram simples mas a coisa só vai escalar a partir daí!
E depois de um desfecho do caso que nos fez ficar suspensos na pontinha do sofá, este livro termina mesmo ao género da reação "Ohhhh shit, agora é que vai ser!"
Que venha o próximo!


Relembro a opinião aos anteriores livros da série


Opinião Segredos Obscuros . ElsaR e EfeitoCris

Opinião O Discípulo . ElsaR

Opinião ao "O Homem Ausente"


Opinião ao "A Menina Silenciosa"

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

"O Que Perdemos" de Zinzi Clemmons :: Opinião


Se perder rimasse com desenraizamento, talvez Thandi tivesse lugar numa geografia concreta, fosse ela africana ou americana. Mas não. Não encaixa. O mais certo é não encaixar em lado nenhum. Thandi não é completamente negra para combinar com a sua carapinha na África do Sul, mas também não é branca o suficiente para encaixar numa Pensilvânia onde é vista como imigrante, estrangeira, africana, preta... 
Por isso, Thandi remeteu-se à geografia familiar, ao sentir-se segura no amparo da sua mãe. E por isso mesmo, «Tudo o que perdemos» é um relato íntimo, fragmentado e desconexo, revelando a vulnerabilidade de uma mulher à procura de uma nova âncora, alimentada por um misto de emoções.

"Nasci no momento em que o Apartheid morria. (...) Nasci na América, a minha mãe, em Joanesburgo e o meu pai, em Nova Iorque. (...)
- A tua mãe era incontornável - contou-me o meu pai. (...)
A minha mãe aproximava-se dos outros de forma agressiva. Era extremamente obstinada e cáustica. (...) As raízes da minha mãe eram fortes e profundas; os seus relacionamentos, resilientes; as amizades sobreviviam a décadas, oceanos e cortes. (...)"

Durante os primeiros capítulos conhecemos esta mãe arrebatadora e firme, mas também os sentimentos, medos e preocupações de Thandi, muitos deles ocultos para a família, sejam sobre a África do Sul, o bairro na Pensilvânia ou outras miudezas da vida do dia a dia.

"Tenho pensado muitas vezes que ser mulher negra de pele clara é como ser uma pessoa bem vestida que também é sem abrigo."

O feitio da mãe e as regras por ela ditadas como mandamentos, formataram-lhe o olhar e o pensamento. O que a mãe trouxe em si de uma África segregada ou a forma como se moldou a uma  América igualmente violenta, influenciou por completo, a forma de Thandi olhar ao mundo. No entanto, faltava ainda que essas regras se redefinissem à medida dos dias e da idade. E antes disso, a doença levou-a. 
A morte da mãe abriu um fosso, buraco esse que não se encherá apenas de coisas simples ou fúteis e muitos dos capítulos são prova disso; relatos dos remendos e das tábuas de salvação, tudo soluções provisórias.

"O meu amor é amável. Não é dado a raiva. É ponderado, bem-disposto e puro. (...) No circuito da minha vida, ele é o chão. Equilibra-me, permite que eu flua num ritmo regular. (...)
Muitas vezes dou comigo, quando discutimos por causa da conta, quando ele mastiga ruidosamente ou se ri na parte errada de um filme, não a perguntar se dou feliz, mas se a minha mãe o aprovaria."

Com a história e o crescimento de Thandi cruzam-se acontecimentos que mudam África, seja a do Sul ou todo um continente colossal; bem como factos incontornáveis que moldam a América, ainda assim o isolamento e as divagações pautam os dias de Thandi. 

"A minha teoria é que o isolamento cria um sentimento de assombração."

Dizer que a maternidade vai alterar o curso deste livro não surpreende; ela é todo o motor destes sentimentos e indecisões que transitam em Thandi. Aliás, a maternidade é o que congestiona o trânsito interno da personagem, portanto era de esperar que o mesmo a descongestionasse, Thandi é mãe, mas o sentimento de pena não a abandona.

"Perder é mesmo assim, uma coisa completa e irreversível."

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Opinião "Alguém como tu"


Coral sabe que o melhor remédio é aproveitar o presente, não lamentar o passado e não fantasiar com o futuro. É uma mulher com os pés bem assentes no chão e que sabe o que quer. Desde que foi mãe e a sua relação com o pai da filha caiu por terra, está decidida em manter os divertimentos bem separados dos sentimentos. Ciente do que quer em termos de sexo, Coral não se coíbe de aproveitar os encontros amorosos que tem mas há um que ela não se importava nada de repetir, e repetir e repetir.
Andrew McCoy é o chefe da segurança da sua amiga Yanira e a estrela mais brilhante no mapa de conquistas fortuitas de Coral. Juntos tiveram uma noite que rebentou com a escala mas se Coral tem o seu código de conduta baseado no "aproveitar sem se apaixonar, então Andrew nem comete o erro de repetir com a mesma. Para ele a melhor maneira de evitar confusões é deixar bem claro que não quer mais nada do que aquela noite e assim não há hipóteses de alguém ficar a remoer e tornar uma noite em algo mais.
Para Coral essa pedrinha no sapato ainda se torna mais pesada quando o docinho das suas fantasias se torna seu vizinho e entre ambos se desenvolve uma bonita amizade.
E o que dizer a Coral quando ela aceita ir com Andrew ao rancho da sua família enquanto se faz passar por sua namorada?
PURA LOUCURA!
A RECEITA PARA O DESASTRE!!
E o clássico "depois não digas que não te avisei".

Uma vez no rancho da família de Andrew a mentira ganha pernas à medida que os dias vão passando, Coral se vai inserindo nas coisas boas e más deste clã e a intimidade com Andrew ganha contornos nunca esperados.
Mas será que o acordo mudou? Estarão os dois na mesma página no que toca às alterações que a sua "relação" sofreu?
Ou estará Coral no derradeiro caminho para mais um desgosto amoroso?

Uma história de força, perdão, aceitação e coragem que nos mostra que por mais capítulos que a nossa história tenha, nem todos são maus, que eventualmente o final feliz "como o dos filmes" acaba por chegar até nós. 
E se não chegou até agora é porque a história ainda não chegou ao fim.

Os livros da Megan Maxwell são sempre divertidos e românticos mas ao fim de tantos já não fico rendida como aconteceu com os primeiros, sejam os mais hot ou os mais fofinhos como este "O teu aroma a pêssego" ou "Deixa-te levar".
No entanto, foi interessante ficar a conhecer a história de Coral que nos tem divertido tantas vezes ao longo dos livros das suas amigas e os Ferrasa.

E como fiquei numa de música country, aqui fica uma que encaixa bem na história.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

«ABC da Poupança» de Ana C. Bravo - Opinião


"Poupar não é necessariamente uma medida SOS (...) A frugalidade é uma forma de consciência expandida, de percebermos que, no fundo, o verbo «ser» é muito diferente do verbo «ter»..."

Poupar ainda é tabu ou sinónimo de fragilidade? Ou mais além, de falhanço?
A frugalidade está na moda ou é uma tomada de consciência para evitar o esbanjamento?

A frugalidade é igualmente vista como uma qualidade de quem é prudente no uso e consumo de recursos como: alimentos, objectos, tempo, dinheiro ou bens em geral. É uma postura de consciência comportamental que visa proteger e gerir estrategicamente recursos e seus hábitos de consumo e de preocupação a longo prazo com a sustentabilidade.

Assim, esta filosofia de poupança usa um sistema sustentado por resultados, não de satisfação ou gratificação imediata, mas de contenção, opta por soluções de consumo com baixo custo e de cultura comunitária e local, daí a ligação entre: organização financeira, reciclagem, produtos locais, sustentabilidade e por sua vez «felicidade e paz financeira».

Este livro ajuda-o a engendrar um plano de poupança que vise atingir a meta: «É preciso tão pouco para viver bem." Por isso, dê o benefício da dúvida e siga alguns do conselhos de literacia financeira e treino de previdência:

-"Orçamentar é sinónimo de poupar..." e para tal precisa de saber, ao detalhe, todas as suas despesas, anote tudo ou guarde os talões.
- Divida as despesas por rubricas: supermercado; casa; tabaco; gasóleo... e depois pergunte-se:
              - Tenho hábitos que podem ser mudados?
              - Faço despesas desnecessárias? Preciso mesmo de tudo o que compro regularmente?
              - Onde consigo melhorar?
- Seja pragmático e realista. Estabeleça limites!
- Programe-se para poupar 10% do seu rendimento.

Atenção: 10% é um bom ponto de partida, um valor facilmente suportado pela nossa cabeça. Vá ao banco e estabeleça uma transferência automática de 10% do seu salário. É uma ajuda que dá a si mesmo. Não se desfalque!

Nota importante: não se esqueça que a rubrica "Carro/combustível", inclui muitas outras despesas, são exemplos: seguro, IUC, revisão anual, óleo, filtros, pneus, inspecção, escovas de pára-brisas, lavagens...
Aqui o cálculo deve ser pensado de forma anual, para depois ser dividido pelos 12 meses do ano, e assim, poderá pôr de parte para despesas maiores e de periodicidade anual.

Outra nota importante: a sua poupança de 10% por mês e o reembolso do IRS (caso receba) são boas quantias para criar um fundo de previdência, digamos um mealheiro. As emergências e imprevistos são um facto e exigem fundo de maneio.

O livro de Ana C. Bravo tem uma parte introdutória para orçamentar, depois, mais especificamente, apresenta nove áreas em que dá dicas de poupança, desde as compras do dia a dia aos filhos e à gestão do lar, sem esquece férias ou remédios caseiros.
Basta escolher aquelas em que mais lhe "dói" e aplicar o devido curativo.

De entre as centenas de dicas, deixo algumas mais capazes de gerar falatório.

- Leve dinheiro para pagar as compras/evite cartões e créditos

- Ande a pé, por desporto, por hábito ou como meio de transporte

- Esqueça o "standby" e poupe 25% na factura da luz

- Se for jantar fora, partilhe a sobremesa

- Use a areia da praia para a exfoliação corporal, fora dessa época, use açucar mascavado no seu gel de banho

- Leia um bom livro sobre remédios caseiros e aprenda a usá-los

- Conheça a escova que lava os dentes sem pasta: procure por Soladey


Vocês não vai ficar rico com estas estratégias, mas pode desafogar-se e ficar mais organizado, em casa e na carteira! E vai também contribuir para a saúde do planeta.

*

Uma leitura com o apoio blogueiro do Estante de Livros

domingo, 28 de outubro de 2018

Opinião "O Prédio das Mulheres Que Desistiram dos Homens"

Para uma total mudança de perspectiva nas tramas que são as relações amorosas entre homens e mulheres, vamos falar de um livro em que as mulheres, por desgosto ou fastio, excluíram os homens da sua vida. Ou pelo menos assim o parece. 


 Quando umas das inquilidas deste prédio exclusivamente feminino decide partir para uma aventura no outro lado do mundo, deixa vazio um andar que rapidamente é ocupado por Juliette, a nossa protagonista. A mais jovem de todas as intervenientes desta história, Juliette, a quem as regras do prédio foram ditadas à priori, alberga uma mente que saltita, ainda que secretamente, como uma bobine solta por pensamentos de sons, cheiros e coxas masculinas. O seu desejo por amor e aceitação, algo que nunca teve ao longo da sua vida, é um segredo que guarda bem longe das suas novas vizinhas e amigas. 

 Giuseppina, a Siciliana, o único tentáculo num polvo forte composto por homens rigidos, que sempre viveu um vida ditada pela virtude e o serviço à família. 
Rosalie, a ex mulher moderna e metade da dupla "Rosalie e François" até ao dia em que ele saiu para comprar tabaco e nunca mais voltou tal era o medo do compromisso e da mini van com um banco de trás repleto de putos aos gritos. 
 Simone, outrora uma filha do campo, conta com uma surpreendente aventura por terras sul americanas que a fizeram voltar à pátria com um filho nos braços, conta agora com um ninho vazio, povoado apenas pelo odor dos seus cozinhados, a presença calmante da sua planta de cannabis e o ronronar de Jean Pierre, o único macho autorizado a meter a pata no imóvel. 
Quem ditou as regras foi a Rainha, dona do edificio e de uma aristrocracia intemporal de quem em tempos foi adorada em palco mas infeliz no amor. Foi o italiano que lhe quebrou o coração que a presenteou com o prédio em que hoje estas mulheres, que renegaram os homens das suas vidas, habitam num pacato pátio no 20º arrondisement parisiense. ​

"Então porque desististe? 
Não desisti dos homens. Desisti, sim, de sofrer. 
... 
A formação de um casal não é a única resposta à pergunta "como ser feliz?"​ 

 Um romance fora do vulgar, que me fez sorrir pelos momentos em que eu própria já pensei se não haveria um andar para mim neste prédio. 
Uma leitura curtinha e que nos pensar se estamos a renunciar o amor ou apenas o sofrimento.


sexta-feira, 26 de outubro de 2018

«Departamento de Especulações» de Jenny Offill :: Opinião


"O que disse Ovídio: Se alguma vez fores apanhado, por muito bem que escondas, / Mesmo que seja numa noite clara, jura e rejura que é mentira. / Não te mostres demasiado servil, nem mais atencioso do que é devido, / pois com isso apenas lograrias afiançar a tua culpa. / Esgota-te se for necessário e demonstra na cama dela / que não poderias ser tão bom se acabasses de vir da cama de outra."

*

"Departamento de Especulações", de Jenny Offill, (Relógio de Água, 2015) é um livro arrebatador. E ao mesmo tempo uma chapada em diversos tons e de difíceis contornos. Ou seja, nem sempre percebemos se as palavras nos apanham em cheio, como os cinco dedos de uma mão ou se é apenas, um indicador esticado que nos cutuca o nariz, em jeito de empurrão mais subtil. 

O que é certo é que Offill não escreve sobre nada de novo: um homem, uma mulher, casam e fazem bebés, um dia o homem cansa-se ou sabe-se lá o quê, traia a mulher e a ela, tipicamente como é esperado, dispara em especulações, emoções, divagações e (talvez) separações. 

Simples básico banal. 
Nada mais errado! E é isso que faz do departamento de Jenny um departamento sem igual nesta empresa compartimentada que é a vida a dois.  

"A vida é igual a estrutura mais actividade."

"Os budistas dizem que há 121 estados de consciência. Desses, só três envolvem angústia ou sofrimento. A maior parte de nós passa o tempo a circular entre esses três estados."

Se a estrutura está em risco e a actividade é torturante, minada pelos círculos de angústia e de sofrimento, daí só poderia resultar uma narração conturbada, híbrida e fragmentária, de onde sobressai uma mulher que procura entender, sentir e se abrir ao que a vida tem, agora, para lhe oferecer.

"A invenção do barca representa também a invenção do naufrágio"

"Até ao século XVII, era geralmente admitido que os ímanes possuíam alma. De que outro modo podia um objecto atrair e repeli?" 


Com quantos sinónimos e de quantos antónimos se faz uma relação?
Atracção/traição. Amor/paixão. Cumplicidade/solidão. Desejo/ sexo. Intimidade/repulsa.
Há de tudo no inventário de Jenny Offill. Mas de tudo mesmo, abrindo assim o leque de pessoas que pode atingir. E atinge de certeza.

"O que disse Simone Weil: A atenção sem objecto é uma forma de oração superior."

"Uma experiência mental, proposta pelos estóicos. Se estás farto de tudo o que tens, imagina que o perdeste."

É difícil definir, é extremamente complexo de explicar, pois não é só de sentimentos, de desgosto ou desapego, da maternidade ou da complexidade da vida a dois, todo o livro é digno de ler e reler, de pensar nos diversos caminhos que nos aponta... até na profissão a narradora nos surpreende, ela aceita ser ghostwriter de um "quase astronauta" russo. 

"Minha Vera, Tua Mãe Já Sabe Usar Naftalina. É a mnemónica que lhe deram para recordar a ordem dos planetas."

Com uma separação digna de quem habita outro planeta, a esposa vai narrando e, ora se afasta, ora se aproxima, como se tivesse ao seu dispor um zoom que procura calibrar. 
Ela quer compreender, ela quer aceitar. Especula ensinamentos, palavras alheias, compara-se aos outros e olha para si, para ele, para o "nos". Há até quem diga que este livro é uma ode ao casamento.

*

Opinião "Longe do Paraíso"

"Eu sou o sonho americano, do esperma em cheio na cara.
Sou rica.
Como um rapper. Com um homem de negócios.
A conta bancária do Donald Trump e a boca do Pato Donald"


A história de Mona não é fácil de engolir mas é interessante de ser ler. Uma viagem nua e crua sobre a mente humana que vive viciada no dinheiro e no sucesso fácil e sobre a indústria do sexo que fiel a si mesma continua o Olimpo aos olhos de uns e desprezível aos olhos e outros.

Mona, Kim, Holly...
Seja qual for o nome e o momento em que o adopta, ela é apenas uma adolescente que vive no vazio dos dias, a usar o corpo em proveito dos seus interesses, a trocar ilusões carnais por uma chance de seguir caminho rumo ao futuro que anseia para si.
Se o modo como chega à industria da pornografia é calculado ao mais ínfimo detalhe, espezinhando tudo o que encontra pelo caminho, a sua ascensão a estrela porno de renome não é desprovida de momentos que nos revoltam o estômago, quer pelo que ela faz, pelo que é e no que se torna.
Não que me ofenda o facto de ela ser actriz porno, nem de longe, mas apenas acho que "Longe do Paraíso" está exactamente assim, longe de ser uma leitura fácil e que me tenha agradado na totalidade. É interessante sim mas não o consigo ver como uma narrativa sedutora, talvez porque continue a achar que a industria porno é feita para os homens e não para as mulheres, muito menos as que nela trabalham.
Bem, talvez "Longe do Paraíso" só não seja uma leitura para mim.
Numa coisa tenho de dar a mão à palmatória, a descrição de certos momentos, especialmente quando contados pelo olhar vazio e mente calculista de Mona, cuja fome de riqueza à custa de tudo e todos a motiva a atalhar das piores maneiras rumo a uma conta bancária recheada é simplesmente arrepiante.

Mas não é esse o American Dream?
O sucesso e a riqueza?! 
O problema é o custo que lhes é cobrado.

Um livro 



I'm your National Anthem, boy put your hands up, give me a standing ovation
Boy you have landed, babe in the land of, sweetness and danger...

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Opinião "Um homem chamado Ove"

Se eu fosse uma pessoa normal e que leva as coisas sempre com o mesmo ritmo, tinha pegado num papel e caneta ou então aberto um nota no meu telemóvel para escrever a minha opinião a este livro assim que terminei a sua leitura a 29 de Agosto mas como estava de férias não me dei ao trabalho e só publiquei uma foto no insta com esta mensagem:

"Adorei este livro 🙂 que personagem!! Cheguei ao final completamente rendida à personalidade e história da vida de Ove e foi com pesar que fechei o livro."

A Elsa de Outubro pergunta "E agora?"
E posso responder o seguinte:

Desde que li a sinopse de "Um homem chamado Ove" que sabia que ia gostar de ler o livro de Fredrik Backman. Tenho uma certa queda para pessoas rabugentas e Ove é sem dúvida uma pessoa rabugenta, ou pelo menos é essa a impressão que passa a toda a gente.
Ove vive numa bairro simpático que em tempos foi habitado por suecos de respeito como é o seu caso e o da sua mulher Sonja mas desde que este foi crescendo tem vindo a aceitar pessoas que não se interessam por nada, especialmente pelas regras do bairro. Ove é um homem respeitador das regras, talvez por isso toda a gente o ache um velho chato que está sempre a reclamar com tudo e todos mas na realidade, Ove é apenas um homem sozinho, especialmente desde que Sonja morreu e o trabalho já não tem lugar para um homem da sua idade.
Determinado em acabar com a sua vida, são incontáveis a vezes em que vê os seus planos cuidadosamente delineados serem adiados, especialmente pelos seus vizinhos mais recentes, que ele "afectuosamente" chama de Mulher Grávida Estrangeira, o seu marido esgalgado e as suas duas miúdas.
E sem querer, Ove é puxado para os dramas desta jovem família, para os desvarios amorosos de um miúdo que quer conquistar alguém com uma bicicleta, para a responsabilidade de partilhar a habituação com um gato ameaçado de morte e para o facto dos serviços sociais estarem prontos para levar para um lar um homem que em tempo Ove chamou de amigo, pelo menos até ele trocar o seu Volvo (o segundo carro aceitável para um homem decente ter, porque o primeiro é e sempre será um SAAB) por um BMW.

Divertido, tocante e capaz de nos arrancar umas quantas lágrimas lá para o final por estarmos tão apegados à integridade e ao coração gigante de Ove, "Um homem chamado Ove" é uma magnífica leitura e acho que todos temos a aprender grandes lições com este Senhor com S maiúsculo, uma prova que já não se fazem pessoas como antigamente mas que se nos esforçarmos podemos ser dignos da mesma admiração. E epah, eu não conduzo um SAAB mas sim um Volkswagen e digo, para mim é sempre um ponto positivo ver que alguém escolheu a mesma marca de carro que eu, é quase uma validação, algo que acontece quando vejo alguém a ler. :)

Mas o melhor do livro...a história de Ove e Sonja :) 

Agora quero ver o filme.