sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Opinião "Só nós dois"

Mantendo a tradição, o primeiro livro do ano foi o mais recente romance de Nicholas Sparks.


Vou começar por explicar que percebi mal sinopse. Ou melhor, o resumo na contracapa do livro levou-me a pensar algo completamente diferente da realidade.
Não sei se isto pode ser considerado spoiler ou não mas eu honestamente pensava que "Só nós dois" se tratava da jornada de Russell Green, um homem que ao perder a esposa se vê a braços com a dor do luto, a responsabilidade de educar a filha e levar para a frente o seu recente negócio por conta própria para assim ter dinheiro para colocar comida na mesa.
Fui só eu que percebi isso da sinopse?
Eu confesso que andei ali de pé atrás à espera que um dia a mãe saísse e algo de trágico acontecesse mas a história tomou um rumo completamente diferente, um que é muito mais comum do que o esperado.

Russell sempre foi um romântico, um homem de gestos grandiosos e de "viveram felizes para sempre". Teve paixões, teve amores mas foi em Vivian que encontrou a mulher da sua vida, aquela que lhe enchia as medidas, aquela que lhe deu a volta à cabeça. Casaram, tiveram uma filha e à semelhança de milhões de casais, ela ficou em casa a tomar conta da filha nos primeiros anos e ele trabalhava para sustentar a família. Até aqui, tudo normal. Cada casal tem a sua dinâmica. Mas nada se mantém inalterado porque nenhum ser humano é uma pedra que se mantém imóvel e imutável.

Os problemas no trabalho, a responsabilidade de educar uma criança, a falta de comunicação, a frustração, o conflito e a falta de realização pessoal, são alguns dos explosivos que minam um casamento e o de Vivian e Russ foi se tornando num campo de batalha. 
É compassadamente que acompanhamos as mudanças na vida de Russ, desde o declínio na sua relação com a mulher, até à separação que os deixa em lugares diferentes.
Mas o mais importante deste livro, embora não se possa deixar de lado um evento marcante que é uma separação, é mesmo a relação que Russ constrói com a filha.
Primeiro impingida, porque Vivian não queria que a filha fosse acompanhada por estranhos (vulgo ama ou infantário) e depois como ar que respira quando já não consegue estar em casa sem que a sua menina esteja consigo.

É enternecedor ler um livro nesta perspectiva, uma que tantas vezes falta na vida de tanta gente.
Quantos homens podem dizer que ficam sozinhos com os filhos? Quantas homens sabem tratar de tudo na vida de uma filha? Quantas de nós somos responsáveis pelo alheamento que tantos pais demonstram pelo dia a dia dos filhos porque teimamos em sermos nós a tratar de tudo?
Xi...nem vou entrar por aqui.

O que quero dizer é que gostei muito de ler este livro. É bom ler um romance cujo o principal foco não é um casal. Na realidade, embora a relação de Russ com a filha seja a peça central da história, são as outras peçinhas que encaixam à volta que me conquistaram. Principalmente a da sua família, ESPECIALMENTE a da sua irmã e o laço que partilhava com ela.

Entre momentos de lágrima no canto do olho aos outros em que me apeteceu espetar dois tabefes na mulher dele (e por vezes nele), "Só nós dois" prova que o Tio Nicholas sabe o que o seu público quer e uma vez mais presenteia-nos com um romance que nos faz sorrir, adorar personagens e expressar uma panóplia vasta de sentimentos em quase 600 páginas.

Ainda bem que decidi criar esta tradição, caso contrário deixaria passar para a estante da mãe algumas histórias deste autor sem nunca as ficar a conhecer.

Querem uma boa prenda para o dia do pai? 
Esta é uma delas.

Deixo-vos com a música escrita para o livro


Uma aposta

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