quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

No céu não há limões de Sandro William Junqueira - Opinião

Conhecem aquela sensação ao abrir um livro e voltar a lê-lo, aqui e ali, seguindo os cantos dobrados, as folhas mais marcadas, as frases sublinhadas e redescobrir o que tanto nos atraiu e nos fez ficar presos nesse livro!? Foi isso mesmo que me aconteceu quando ontem peguei para comentar este último romance de Sandro William Junqueira (SWJ) que já li em Agosto.


Não deixei por rever este livro por acaso. Há tanto de extraordinário como de comum neste romance de contornos meio surreais e distópicos, mas igualmente semelhante aos dias de hoje, com tudo o que de nefasto existe nos flagelos actuais. Existe fé, mas não vence a corrupção do corpo. Existe deus, mas é conspurcado pela mente dos homens. Poderia existir amor, mas o poder fala sempre mais alto... talvez haja inocência, mas é confundida com desconhecimento ou falta de sofrimento. Existe humor, mas lapidado pelo lado negro.

Sandro William Junqueira junta as dualidades mais opressivas que o ser humano acarreta em si e transporta-as para um lugar desconhecido que poderia ser o país de qualquer um, mas planta a acção perto do mar ;() onde a Avó consegue sentir a aragem marítima. Separa o Norte do Sul, atribuí grandezas a uns e fome de tudo a outros, mas separa-os por uma fronteira tenebrosa, mas ténue onde os interesses e o poder se confundem em prol dos desejos e das necessidades fúteis dos mesmos do costume.

Não é fácil fazer-me entender ao falar deste livro sem ter a tendência, ou para explicá-lo (conforme eu entendi) ou para enredá-lo e complicá-lo um pouco mais. É complexo, sim. A forma e a estrutura que assume é diferente, não será novidade para quem leu o romance anterior, mas não deixa de ser complexo imaginar todo um enredo sem espaço geográfico definido, tempo ou nome para as personagens. A Avó é assim nomeada pelas características óbvias, como o Bispo, pelas funções que desempenha, ou o Padre, ou até a Adolescente evidentemente pela idade e outros atributos.

A espontânea maldade intrínseca no argumento que compõe este "No céu não há limões" é, a meu ver, um olhar atento à Humanidade e aos dilemas intemporais e existenciais que o ser humano atravessa nas várias idades da vida, mas essencialmente naquela em que questiona o sentido e a direcção da sua missão, do seu papel e talvez questione a presença de uma mão superior, abstracta e poderosa que possa garantir o seu caminho. Mas isso não acontece de forma suave e muito menos sem perguntas e dúvidas.

Estou a falar de fé, de religião, de acreditar ou não em Deus e decidir o que sentimos segundo as leis dessa crença, dessa espiritualidade. Não sei se esta é a essência deste romance, mas foi isso que ficou evidente para mim. Em que ponto da nossa vida procuramos a fé e a espiritualidade? E quando surge, é facilmente absorvida ou somos antes de tudo absorvidos para os dilemas e os problemas associados?

Penso no lado menos colorido deste tema, pois o livro segue esse lado mais negro. Um lado que desenterra o passado, um lado que verte sangue e derrama lágrimas. Julgo que o centro da acção deste enredo está precisamente nessa maldade que aguarda a queda do homem. À distância de promessas sem compromisso ficam acções que poderiam salvar as almas e orientá-las num futuro melhor, mas sente-se pouca esperança ao longo das páginas.

A missão falha, arrasta-se e está obstipada. Há um certo azedo que acidifica todo este cenário estruturado para o que é feio e que torna os homens em meros figurantes. Um discurso recheado de metáforas para a ficção em que se tornou o palco da vida.
E julgo que não podia ter encontrado melhor parágrafo para finalizar, tentando fazer justiça ao único traço belo deste romance: a linguagem extremamente funcional mas lírica com que Sandro Willliam Junqueira consegue compor, usando palavras simples, mas que não podiam ser as mais adequadas.


Uma leitura com o apoio EDITORIAL CAMINHO.

Leituras ElsaR 2014

Em 2012 li 33 livros, no ano seguinte tinha planos de ler o dobro mas não consegui, então renovei o desafio de leitura para 2014 com o mesmo número 66.
Fico feliz por dizer que os 66 foram atingidos e ultrapassados em larga escala. 2014 foi mesmo o ano das leituras com 110 livros lidos.
WOW!
Podia tentar nomear um preferido, mas não consigo. Posso sim apontar uns quantos que me tocaram,fizeram rir ou chorar ou que guardei para sempre um eterno carinho. Dai os destaques das capas ao longo da lista.
Por isso, sem mais demoras, fica o resumo de um grande ano de leituras.
 
Desafio para 2015? Ler o mesmo número porque mais que isto acho que é loucura.

E por ai, quantos livros leram? Qual o que guardam com especial carinho?

Bom ano :)
que 2015 seja um ano de grandes leituras


terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Feliz Idade de Sigrid Undset - Nobel de Literatura 1928 - Breve Opinião


Feliz Idade de Sigrid Undset trazia com ele a premissa de ser uma leitura leve, mas marcante, naquela que é a idade para se tomar determinadas atitudes e avançar. Uma novela moderna pela mão da nobelizada Sigrid Undset que pretende mostrar certas viragens que o século XX permitiu, como a emancipação das mulheres. Com uma voz forte, mas igualmente simples, Undset, a norueguesa nobelizada em 1928 traz ao enredo a saga da busca pela felicidade, tanto no espectro pessoal como social e ainda o esforço para que existisse outra aceitação das mulheres, em muito para quebrar a solidão e alguns estigmas com o casamento e a família. 

Uma novela que me fez pensar na importância da liberdade dos dias de hoje e de uma maior abertura em termos de sociedade moderna, de resto é uma escrita e um enredo que não me cativa. Sinto que se passou o mesmo com Victoria do também nobelizado Knut Hamsun (Opinião).

Em "Feliz Idade" a autora revela também a preocupação com a possibilidade de perdermos o rumo e o controlo das nossas vidas e desperdiçarmos os nossos melhores anos. Linha que foi interessante de seguir e pensar sobre, já que li este livro enquanto "peregrinei" este ano a Fátima. Coloco peregrinação entre aspas, já que a espiritualidade e a religião não foi o foco, mas pode bem ter sido essa busca pelo sentido dos dias e para promover o reencontro tranquilo e solitário com os meus próprios pensamentos.

Foi curioso a certa altura ler que a ela caminhava pelas ruas de Cristiânia, ficando a conhecer a cidade e quebrando a solidão. Perdoem a ignorância mas não sabia que Oslo, havia sido Cristiânia. ;)

Quem sabe 2015 traz a hipótese de umas caminhadas em terras escandinavas. 

Este livro foi lido durante os 138kms a pé até Fátima.
Vejam mais em, Publicação


Retrospectiva de leituras de 2014


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Não faço retrospectivas de tudo e nem todas faço com (muito) gosto, no entanto, confesso que traçar linhas sobre o que decorreu no ano, balanceando os resultados, é sempre uma forma palpável e concreta para ingressar um novo ano com as perspectivas mais direccionadas. Não sei se me faço entender. Fazer balanço acarretar diversos tipos de sentimentos.

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Ficam então aqui o registo daquelas que foram as leituras deste ano, com alguns livros ainda por comentar, tais como: No céu não há Limões; a tetralogia de Valter Hugo Mãe, Os olhos de Tirésias e Jerusalém. Tenho ainda quase todos os livros de Afonso Cruz por comentar... Sendo assim, foram mais de 70 bons momentos de encontro entre a leitura e a escrita... Sem esquecer todos os quilómetros que palmilhei, a pé por aqui e ali, durante este ano, como por exemplo a "peregrinação" a Fátima onde li Feliz Idade (agora já com review!).

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- Pigtopia de Kitty Fitzgerald - Opinião

Uma surpresa deliciosa, pela escrita, pela pigologia. Uma história aterrador e desconcertante e ainda assim bela.

- Breviário das más inclinações, de José Riço Direitinho - Opinião

Um total destaque dentro do género que o caracteriza, superior em tudo. De topo, senão o topo.

- "Tenho o direito de me destruir", de Kim Young-ha - Opinião

Subintitulei-o de "a esquizofrenia de querer ser um deus", mas ficou aquém, eu queria mais e queria-o macabro.

- A Vida Peculiar de um Carteiro Solitário, de Denis Thériault - Opinião

Existem livro feitos para nos desafiar, este é um desafio. Há algo a Oriente que me falta entender e percepcionar para atingir a beleza de desafios literários surreais como este.

- A peregrinação do rapaz sem cor, de Haruki Murakami - Opinião

Se não fosse a leitura de Stoner não teria conseguido enfrentar o retorno à melancolia murakamiana. Valeu todas as horas. Aliás, ambos.

- STONER de John Williams - Opinião

No topo dos livros deste ano. A resiliência e a vontade de persistir, insistir, resistir. Viver.

- UM, DÓ, LI, TÁ... de M. J. Arlidge - Opinião

O policial que mais me arrepiou neste 2014. O vencedor.

- "dizem que sebastião" de João Rebocho Pais - Opinião

À espera de mais para confirmar o gosto pela escrita curiosa e saltitante de JRP.

- Haatchi & Little B, de Wendy Holden - Opinião

Um livro que mostra a minha vontade de abraçar a causa e adoptar e voltar a ter um patudinho.

- "Eu. Alex Cross" - James Patterson - Opinião

De volta aos policiais acelerados e "limpos" de Patterson.

- "Saber Perder", David Trueba - Opinião

A confirmação de que Trueba é para ler, se bem que não começámos com o pé direito em 4 Amigos.

- "Quatro Amigos", David Trueba - Opinião

Não escondo, não foi fácil prosseguir na leitura, mas foi um bom exercício de férias.


- A Mulher Má, de Marc Pastor - Opinião

Um livro que podia roçar o mais negro universo da mente humana, caso o autor não tivesse medo de chocar.

- "A Mulher Louca", de Juan José Millás - Opinião

Uma loucura enredada em lições de gramática. Soma pontos na originalidade.

- Valentina, o lado obscuro do desejo - Evie Blake - Opinião

Para aumentar o fogo debaixo dos lençóis e virar a página no fetichismo.

- Leituras, d. Arena - Saúde, Nutrição e Dietas - Dr. Hiromi Shinya e Ana Bravo - Opiniões

Na busca constante por mais informação. A alargar horizontes para uma alimentação alternativa, mais saudável, mas se possível mais elucidada.

- Um Homem Singular, Christopher Isherwood - Opinião

Dos favoritos. Singular na forma como nos faz sentir o personagem e "pedir" por ele.
No filme, é impossível não gostar de Colin Firth.

- A Confraria do Vinho, de John Fante - Opinião

A confraria de bêbados e drogados, alucinados pela falta de amor paternal e de alguma liberdade de comunicação. Um livro simples, cru, mas muito eficaz.

- A Delicadeza, de David Foenkinos - Opinião

A delicadeza de passar de recordação e, recordação e com elas aprender a viver e a amar outra vez. É essa a "lição" entre as duas leituras. (As Recordações, leitura 2013)

- A vida segundo María Jesús Álava Reyes, leituras e opinião - As três chaves para a felicidade

Os livros de auto ajuda vivem de fases. E esta não será a melhor fase para os ler e encarar com pragmatismo.


- Natureza Morta, de Louise Penny - Opinião

Policial à antiga. Há um certo classicismo nos policias que não em atraí. Tem de haver sangue. Hora de chá para discutir provas não me convence.

- INVISÍVEL, de James Patterson e David Ellis - Opinião

Gostei. A ideia do fogo e da dor levada ao extremo em leituras nocturnas no meio do campo ainda me fez transpirar. Confesso.

- "Um grito de socorro", de Casey Watson - Opinião

Crianças, cães e necessidades educativas especiais, excelente tríada para me agarrar a um romance ou caso real.

- Morte numa noite de verão, de K. O. Dahl - Opinião

A confirmação, à terceira. Os nórdicos não são todos para o meu dente, nem mesmo em policiais.

- "MAL NASCER" - o regresso de Carlos Campaniço - Opinião

A confirmação. Carlos Campaniço é um autor a seguir.

- "Sono", de Haruki Murakami, Opinião

Preparem-se para se sentirem com sono. Se essa era a sensação a provocar, Murakami conseguiu. É de génio dar-nos o clima sonolento para compreendermos e pensarmos na privação física e mental provocada pela insónia. É o universo Murakami em pleno, nas divagações da mente e na busca para as compreender.

- Morte nas Trevas, de Pedro Garcia Rosado - Opinião

Queremos mais de PGR, mais sangrento, mais acutilante. A voz do policial português em locais bem próximos de nós que aumentam e adensam o ambiente que se vive nos seus enredos. A seguir.

- "Biografia Involuntária dos Amantes" - o retorno aos livro de João Tordo - Opinião

O retorno a Santiago de Compostela pelas palavras de João Tordo. E o regresso à sua escrita pelo universo alucinado de um altruísta no mínimo estranho, mas intrigante.

- Uma outra voz, de Gabriela Ruivo Trindade - Opinião

Uma "voz" que espero voltar a ler. É a total confirmação que o Alentejo espelhado na literatura me cativa muito.

- "As Coisas Que te Caem dos Olhos", de Gabriele Picco - Opinião

Depois de Mathias Malzieu, outro universo ilógico  encantatório. A prova de que gosto de fantasia, em toques infantis e surreais, mas dentro da nossa realidade.

- A Mecânica do coração» de Mathias Malzieu - Opinião

Para minha surpresa não me encantou tanto quanto o anterior. Acredito que o autor tem vindo a apurar o seu Universo. E aqui senti o peso de uma má tradução, de uma tradução que não se preocupou em compreender o universo do autor/enredo.

- "Marginal", de Cristina Carvalho - Opinião

Numa linha em que apostei este ano. Autores lusófonos e pré e pós 25 de Abril. Em Marginal encontrei um lado jovem.

- "Até que sejas minha", de Samantha Hayes - Opinião

Um thriller em tom feminino, com foco no feminino. A demência da maternidade num limite desumano.

- Índice Médio de Felicidade - David Machado - Opinião

Um livro para abrir uma conversa entre amigos e discutir. Pensar em muitos assuntos actuais entre um copo de vinho.

- "Mar Humano" de Raquel Ochoa - Opinião

Um livro meio desequilibrado que me fez pouco sentido. Há muito que não me liga a ele e menos ainda o fim.

- História de um caracol que descobriu a importância da lentidão, de Luís Sepúlveda - Opinião
A segurança e a beleza da fábula em tom infantil e inocente. Há magia.

- "Firmin" de Sam Savage - Opinião

Um, dois, três. Três delícias, três monólogos hilariantes pela autoria de Sam Savage, Mas nada bate "O Grito da Preguiça"

- "Victoria" de Knut Hamsun - Opinião

Entender os clássicos ou compreender o impacto que têm na literatura!? Vou aguardar Fome para me apaixonar por Hamsun, pois com este, apesar do amor, não aconteceu.

- "Intempérie" de Jesús Carrasco . Opinião

Nem sei bem que diga. Um enredo atordoado como o personagem. Houve algo que me confundiu neste romance que não me deixou rendida e não sei bem o que foi.

- "Sou Um Clandestino" de Susana Tamaro - Opinião

Voltar aos autores de juventude tem sempre um certo saudosismo, tal como este clandestino. Uma excelente metáfora para a duplicidade da vida.

- "Livro sem ninguém" - Opinião

Livro sem ninguém... um livro cheio de rastos de gente! Mas falta muito para ter de tudo ou conter o vazio. Conceito complexo.
50 páginas deliciosas, quase 100 de tédio.

- "A volta ao medo em 80 dias" - Opinião

Simples, tocante, com sentimentos e sem medo de os mostrar. Um relato do medo como motor de retenção de um povo.

- "Infravermelho" de Nancy Huston - Opinião

Um livro a repetir. Um guia para uma viagem às Tosca e uma introspecção feminista.
Ter ganho o prémio para o livro com a pior cena de sexo é em si hilariante e demonstra todo o sentido de humor que o livro espelha.

- "A casa de papel" um livro de culto! - Opinião

Um pequeno deleite para os leitores. Um guia para futuras leituras.

- "A mulher de verde" de Arnaldur Indridason - Opinião

A violência doméstica tratada com a frieza do clima nórdico. Um enredo que volta a trazer o estigma das crianças nascidas de relações consequentes da segunda grande guerra, como já antes fiquei desperta pelo relato em "A vida com alpendre de vidro cego." (opinião)

- "Perfumes", de Philippe Claudel - Opinião

Não há vez que agora faça pêras bêbadas que não me recorde das descrições da canela e de outros traços familiares. Há cheiros que acompanham a nossa vida. Há toda uma vida própria dos cheiros que nos acompanham.

- ROSA CANDIDA - Opinião

Os nórdicos andam com saldo negativo. São mais os que não me cativam na sua totalidade. Rosa Candida tem tanto para dar certo, mas há uma certa inocência e infantilidade nos gestos que desacreditam o livro.

- "Os Memoráveis" de Lídia Jorge - Opinião

Tal como já referi na crítica. Os Memoráveis são um hino. Uma ode, ao povo, à revolução, à força de uma geração.



- "O melhor lugar do mundo é aqui mesmo", Opinião

Para me recordar o quanto gosto de algumas singsongwrites. E para me despertar para haikus.

- "A Fenda", Doris Lessing - Opinião

A intrigante exploração de Doris Lessing pelo mundo da concepção sem homens. Estranho, intrigante, irritante e até certo ponto meio non sense. Não foi uma boa estreia com esta Nobel.

- "Principezinho põe a gravata" de Borja Vilaseca - Opinião

Porque todos crescemos, mas por vezes precisamos de um pouco de magia. Um enredo que roça (em muito) o inverossímil.

- "Os Transparentes", de Ondjaki - Opinião

Um livro. Uma música. Um quadro, um cenário. Ondjaki recria com palavras a Angola que imaginamos. Traz sonoridade, cheiro, dialecto, calor... o resto, são adereços.

"(...) desorientado por vocação, acordava cedo para ter mais tempo de não fazer nada."


- «Que importa a fúria do mar», de Ana Margarida de Carvalho - Opinião

O Tarrafal com uma história de amor... pergunta-nos: será o amor o pilar da nossa luta, da nossa resiliência?


- «Brincar com coisas sérias» - Opinião

De volta aos tempos de escola. Nada mais.

- A Rainha dos Sipaios, de Catherine Clément - Opinião

Da Índia com amor, mas não me encheu o peito. Continuo a preferir a história das religiões explicada a Theo.

- BOM CAMINHO, de Fausta Cardoso Pereira - Opinião

Não fui a Santiago, mas calcorreei o Caminho de Fátima desde a porta de casa ao Santuário. E compreender que o mundo por vezes se resume a um par de botas, conteúdo da mochila e quem connosco divide alegrias, dores e kms, é tudo o que de melhor há. É mágico.

- "Um piano para cavalos altos", de Sandro William Junqueira - Opinião

Uma estreia. Um formato totalmente inovador e desconhecido até agora. Um cenário frio e negro. Dividido.
Esperei o próximo para me prender e tal aconteceu. No Ceú não há limões foi um dos meus livros de 2014.

- "O Deserto dos Tártaros" de Dino Buzzati - Opinião

Uma chapada sem mão para revelar o quão desértica podem ser as nossas vidas. Um livro em que voltei a pensar várias vezes este ano. Um marco.


- «Tempo para falar» de Helen Lewis - Opinião

Haverá ainda "tempo para falar" de (mais) casos ocorridos durante a 2ª Grande Guerra?
É "tempo para falar" e reavivar o passado?
Onde reside a força para revelar tais memórias angustiantes e apavorantes?

- A Segunda Grande Guerra em literatura juvenil :: Editorial Presença - Opinião

Um excelente livro para ler em família. Aliás dois!
Juntar o filme "O rapaz do pijama às riscas."

- «A Caça» de James Patterson - Opinião

48h de leitura acelerada. Repetindo a dose do ano anterior. Patterson é sempre seguro.

*

75 bons exemplares de como praticar a Livroterapia!!



Opinião "A Estação do Desejo" de Sadie Matthew

O que dizer de alguém que é capaz de fazer o outro baixar o nariz, sair do pedestal e encarar o desafio de se entregar de corpo e alma a alguém que inicialmente julgava desprezar?
Em “A Estação do Desejo”, Milles assume o controlo e em mais do que um campo ao mesmo tempo. Da sobrevivência de Freya num descontrolado acidente de viação à educação pelo prazer nos tempos de clausura que vivem em conjunto, Milles faz derreter a camada de gelo que envolve a nossa protagonista e nós não podíamos apreciar mais esta transformação.

»Ler Excerto«

Quando li a sinopse de “A Estação do Desejo” pensei para comigo “olha a clássica história que os paparazzis adoram perseguir” e não me enganei.  Freya Hammond é a socialite afectada pela massiva quantidade de dinheiro que o pai tem e que nada faz na vida além de viver ostensivamente na sua redoma de vidro e brilhantes. Numa dessas jornadas de “quero, posso e mando” Freya sofre um acidente sob a protecção de Milles, um dos mais recentes guarda-costas da equipa altamente treinada e escolhida a dedo pelo Sr. Hammond.
Habituada a mordomias mas incapaz de perceber a situação em que se encontra ou até ser capaz de prezar a ajuda de Milles no seu salvamento, Freya tem as piores atitudes capazes de se imaginar, até na cena em que no calor do momento, com a adrenalina do acidente a correr nas veias, é assalta pelo desejo de testar os limites da decência e se insinua a Milles.
Dividido entre o desejo e o dever, Milles leva as coisas por outro rumo mas sozinhos no meio da neve, numa espera eterna por salvamento, que caminho poderá levar a atracção latente entre ambos, agora aumentada com a adrenalina de uma experiência perigosa, de vida ou morte?
Será Milles capaz de manter a distância ou sucumbirá ao desejo?
E Freya? Quem é esta miúda que não está habituada a ouvir não? O que a será capaz de mudar?
Um acordo permitirá a ambos obter o que desejam mas a que preço?
E fora do abrigo, poderá a sua jornada intima continuar?

“A Estação do Desejo” conta-nos uma história que, como mencionei, é muito comum nos tablóides e nas revistas cor de rosa mas tendo em conta a autora, sabemos ter acesso aos bastidores escaldantes de um romance que começa de uma maneira pouco convencional e que mesmo no pico do inverno, nos vai aquecer com as descrições pormenorizadas e escandalosas cenas intimas.
A ligação entre Milles e Freya começa no calor do momento pós acidente, muito culpa de um pico de adrenalina misturado com tensão sexual mas uma vez iniciado este caminho de descobertas, não há volta a dar. Estão lançados os dados para a transformação de Freya, para demonstração de mestria de Milles e embora tenha gostado imenso da instrução do Guarda-Costas, quer da teoria quer da pratica, achei o fim muito repentino, deixando-nos um pouco insatisfeitas quanto aos detalhes.
Talvez por isso deseje ler mais mas onde está a continuação. Há continuação?
Eu cá adorava ler os livros com as histórias das irmãs de Freya. Depois de conhecer a família Hammond e quem os rodeia, acho que valia a pena uma nova opinião e um desenrolar de história naquela fortaleza em que vivem no meio da neve.

Ponto algo, além das cenas pecaminosamente detalhadas e interessantes, é mesmo a presença de Dominic e Beth da outra série já lida anteriormente e que aqui surgem como amigos e aliados de Milles e Freya.
E ao longo do livro, aliados é o que eles mais precisam especialmente quando a redoma de Freya se fecha contra vontade e esta se vê rodeada do pesadelo que todas as celebridades vivem, o de ver a sua vida privada escarrapachada nas capas dos jornais e pelos piores motivos.

Um livro que os amantes do género que não querer perder e que detém das cenas mais interessantes que li nos últimos tempos. Só aquele fim deu cabo de mim, parece que falta ali alguma coisa.

Uma aposta

De Bicicleta - Antologia de Textos

Mal vi este livro decidi logo comprar, não fosse eu um amante de bicicletas.... isto já se está a tornar num vício.

Neste livro encontrei alguns dos dos mais interessantes relatos literários sobre a bicicleta. São um género de crónicas publicados nos últimos cem anos, com imensos dados, muitos dos quais desconhecia por completo.

Alguns relatos chegam a ser motivacionais, daqueles em que nos apetece deixar o livro e agarrar na nossa bicicleta e pedalar por aí fora sem destino, sentir o ar na cara, e "voar" pelos campo fora, gozar da plena liberdade de ter connosco uma das invenções mais importantes de sempre (para mim é claro).

Esta antologia aproxima-nos da bicicleta, leva-nos a crer na perfeita simbiose entre Homem / Bicicleta,  "examinei-o com um olhar de águia, procurando descobrir qual dos dois (o homem ou a bicicleta) é que transportava o outro, e se se trataria mesmo de um homem  com a bicicleta às costas."

São ao todo vinte e dois autores reunidos num livro que tem como pano de fundo a bicicleta, mas não se enganem, nem todos são relatos de alegrias...
sim... que isto de pedalar tem que se lhe diga. Quem anda de bicicleta sofre, são as quedas, o esforço físico despendido para fazer a nossa locomoção, são os problemas mecânicos, entre outras...
"Isso permitiu-me comprovar que, embora estivesse todo estropiado, nessa altura ainda sentia um certo prazer em andar de bicicleta.... prendia as muletas, uma de cada lado, à barra superior do quadro; enganchava o pé da perna rígida...."

Adoro que se façam livros sobre este desporto, sobre este meio de locomoção que agora mais do que nunca toma outro fôlego, outra importância, e a ser um objecto de culto urbano, perdendo o medo e a deixar a vergonha em casa, para virem pedalar para a cidade ou de forma mais desportiva, entre amigos, com as famílias, como desporto, como passeio ou simplesmente como forma para chegar ao trabalho.

Hoje já se vê em Portugal as várias tribos de ciclistas que começam a apoderar-se dos espaços públicos para ter uma vida mais saudável e mostrar as suas potentes máquinas de pedalar...

Oiçam aqui, na voz de Carlos Vaz Marques, relatando o impacto e a importância do ciclismo.
Livro do Dia TSF, a 19/06/2012. Uma edição RELÓGIO D'ÁGUA.

Comecei a ler...

Estou a fechar o ano mas acho que ainda cá encaixo mais uma leitura.
Afinal não são só 110 :)
Aqui vai mais uma.

Sinopse:
 Dominic Corisi é bilionário, tem um corpo perfeito e um charme irresistível que lhe garante que todas as mulheres que deseja lhe caiam aos pés. Quer dizer, todas menos Abby Dartley, uma jovem e atraente professora que não acredita em correr riscos, sobretudo no que toca a homens. É precisamente por isso que Dominic está decidido a não a deixar escapar e, quando os negócios o obrigam a viajar até à China, leva Abby com ele. Mas com as suas condições: sem promessas e sem compromissos. Só sexo. Porém, na China, Abby toma conhecimento de uma intriga que a poderá obrigar a abandonar o seu papel submisso de amante, mesmo que isso signifique perder o homem que ama...


Opinião :: "Quatro Amigos" de David Trueba

Há uma discussão sobre este livro entre a equipa do Efeito dos Livros. A Metade Negra, apreciadora de Trueba, foi quem trouxe o livro à baila quando o tornou uma das suas leituras de verão mas as exclamações que foi fazendo e os excertos que foi partilhando ao longo da leitura cimentaram a opinião de que este livro em pouco se enquadrava com um género que lhe fosse querido, sendo bem mais provável que o meu humor negro e juvenil ou o facto do caracol ser o único homem nesta equipa fossem razões para que a história de “Quatro Amigos” fosse do nosso interesse e víssemos nele algo que a nossa metade negra não encontrou.
Leiam a opinião dela e depois vejam a minha.
Decididamente, embora lido da capa à contra-capa e salvo raras excepções que vou nomear depois, “Quatro Amigos” não encheu as medidas da metade colorida, pelo menos até mais de meio. Talvez o Caracol encontre em Solo, Raúl, Claudio e Blas algo mais que quatro gajos que se queixam de uma juventude fugida aos seus poucos 27 anos, que (mal)conservam entre si uma amizade que se assemelha a uma tshirt velha e puída que se mantém unida por escassos fios de tecido mas ao qual são fieis como cães mesmo quando suam que nem porcos e limpam o vomitado depois de uma noite de loucura velada a álcool e tentativas frustradas de sexo fácil.
Muito duro?
Pois, porque a leitura de “Quatro Amigos” assim o foi (pelo menos até metade).
Esta salvaguarda do “pelo menos até metade” é exactamente o que divide a minha opinião em dois pólos opostos. Se por um lado, aquele que se prende pelo facto de ser mulher e da mesma idade que as personagens me faz considerar Solo, Blas, Claudio e Raúl uns perfeitos idiotas, temos o outro lado, aquele que, como estes quatro amigos ainda se vê como uma alma louca, aprisionada às responsabilidades que por vezes deseja mandar às urtigas e que jura querer manter aquela liberdade vital dos momentos fugazes entre amigos e copos. Esse lado, o da alma louca, em medida de comparação com estes quatro muito menos inconsequente, idiota ou armada aos cucos, consegue perceber o que apenas Solo (e em certa medida Raúl, o casado e pai de filhos) percebe no fim, que as amizades sofrem os seus abalos, que por vezes são remetidas a um canto mas que mesmo perante a presença de um amor, um casamento ou dois gémeos que berram a plenos pulmões, mesmo perante o decurso tradicional da vida, se tivermos a sorte de o ter, mesmo assim as amizades estão lá. Podemos ter tudo, não em pleno nem tudo na perfeição mas sim, podemos ter de tudo um pouco se estivermos predispostos para tal, caso contrário, sozinhos vamos acabar os nossos dias.

“Quatro amigos” fala de amizade, amores perdidos, do “ele nunca foi amado em pequeno” e se quisermos filosofar sobre quatro almas perdidas, do inconformado que foge da felicidade, do playboy que abomina os sentimentos à excepção do amor que tem ao cão, do gordinho eternamente na friend-zone e que vai quase sempre para a cama com as mulheres que conhece e o outro, o casado e pai de filhos, que tenta trepar por qualquer rabo de saias porque a mulher lhe nega os gostos kinky anteriormente partilhados…
Salvação?
Nunca a pensei encontrar para este grupinho, nem para o livro mas a verdade é que na terceira e última parte, o livro foi reanimado através de técnicas de primeiros socorros e de um velho amor, aquele perdido, aquele que julgávamos não quer mas que foi sempre o que de melhor tivemos na vida.

"Fracassa o quanto antes, porque assim terás tempo na vida para te recompores"

Para mim o ponto alto foi o reencontro com Bárbara, esse amor que ficou pelo caminho. Solo, assim como muito boa gente, ficou preso a um amor que teima em revisitar como quem sem prende de amores pela casa onde um dia foi feliz mas que agora tem outros inquilinos, que deixa felizes outras pessoas enquanto nós só a vemos por fora, ao frio e à chuva já tão longe do seu calor.

"..a nossa paixão incómoda, era um amor dos quinze anos, interpretado por pessoas sete anos mais velhas, mas um amor adolescente. Talvez seja o único amor possível"

O outro ponto alto, para mim, é Estrella. Hilariante a sua presença e o seu espírito. Humor sem recorrer à asneirada dos quatro amigos. 5 estrelas!
O último ponto extremamente positivo prende-se nas notas do Escrito em Guardanapos que vamos apreciando ao longo do livro, tão certeiros no encerramento de momentos chaves. Solo transborda um sentimento nessas linhas que nos oculta ao longo de quase todo o livro e talvez por isso, agora que li o livro todo, não o consigo detestar, não consigo falar mal e no fundo, até apreciei a leitura por mais vezes que tenha revirado os olhos perante os acontecimentos, os clichés e as atitudes à laia de feios, porcos e maus. Confesso, tive momentos em que desejei lançar o livro à parede mas estes quatro eram tão cabeça dura que tive receio de partir as paredes velhas da minha casa.

"Às vezes penso que o cérebro tem inveja do coração. E maltrata-o e ridiculariza-o e nega-lhe o que deseja e trata-o como se fosse um pé ou o fígado. E nesse confronto, nessa batalha, perde sempre o dono dos dois" - (Escrito em guardanapos, pg. 194)

Relendo a Opinião da minha metade Literária, mulher e com muito menos paciência para tretas que eu, compreendo porque mencionamos dois pontos comuns, o da presença destas duas mulheres na jornada e vida dos personagens, assim como os escrito, que para nós, pelo menos, para mim, esses são os pontos altos do livro mas venha de lá uma opinião de homem. Estou curiosa para ler! 

E enquanto lia “Quatro Amigos” era isto que tocava na minha cabeça

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

A Informacionista, de Taylor Stevens

Por sugestão da metade mais colorida deste blogue (leia a opinião da Elsa, aqui) e apesar dela ter adorado este livro, eu nem sei bem por onde começar para falar sobre "A Informacionista".

Por isso, de forma muito simples vou dizer-vos os extremos, começando pelo "fim":

O que gostei:
Tipicamente, é um livro que em certas partes se torna impossível de largar pela quantidade de acção que tem página atrás de página. Quando a acção domina queremos por força saber mais e mais e ficamos agarrados à história.

O que não gostei:
Achei que, em geral, enredo e o perfil de Vanessa Monroe são demasiado polidos, pois sem querer fazer comparações sexistas, a nossa "James Bond" é demasiado perfeita para ser verdade... isto se tivermos em conta o seu início.

Uma mulher que foi em criança criada aos pontapés nos recantos de África, enquanto filha de missionários americanos nos Camarões​ que se importavam com tudo e todos menos com ela. Depois passou a ser uma criança que se misturou com os locais e começou a aprender as suas línguas e dialectos, experiência que se tornou numa das suas maiores armas, falar 22 línguas.

Mais tarde quando se começou a misturar com traficantes e assassinos adquire capacidades letais, como mexer em armas, onde se considera que as maneja como ninguém. É no uso destas (todas) suas capacidades que demonstra ser uma autêntica super mulher. E é neste, a meu ver, exagero que tira um pouco de credibilidade à personagem. Julgo que existirem alguns defeitos lhe trariam mais perfeição e traços mais humanos... espera-se que apareçam no livros seguintes!?

No entanto e como logo indiquei, é um livro que vive da acção e se torna de fácil leitura, com grandes momentos de tensão, ainda assim ao nível do enredo temos algumas falhas que também são difíceis de engolir, talvez as explicações não sejam as melhores.


Para ler mais do livro, visite a página da TOPSELLER, aqui.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Na Montanha de Hitler - Irmgard Albine Hunt - Opinião

A segunda guerra mundial é um dos temas sobre o qual mais leio. Normalmente temos livros que relatam factos sobre os principais protagonistas, sobre os judeus ou os campos de concentração, heróis de guerra ou sobre o Holocausto em geral, mas pouco se encontra sobre os cidadãos comuns, mas essa realidade tem vindo a mudar.
São muitos os livros que, actualmente, fazem o relato de diversas vivências durante a segunda guerra, neste caso temos um relato de infância naquela que foi a "montanha de Hitler."

Por ser um relato de um prisma que ainda não havia lido, comecei com grande entusiasmo, entusiasmo esse que se foi perdendo no passar de cada página.

Apesar deste livro ser um relato verídico e contado na primeira pessoa penso que se perde um pouco por relatos demasiados simples, sobre pormenores quotidianos... julgo que as descrições são muito detalhadas fazendo perder o foco daquilo que o leitor talvez vá à procura.

Apesar desta opinião o livro leva-nos a enfrentar a vida do dia a dia de uma família a viver literalmente junto do ninho da águia e onde se pode ver como funcionou o poder opressivo do regime Nazi, a Irmgard descreve-nos todas as alterações sofridas ao longo dos anos da sua infância, desde as mudanças na escola, na religião, nas músicas, no comportamento das pessoas, coisas simples como a troca de canções em épocas festivas até à forma como foi incutida a muito conhecida saudação nazi.

Depois mostra-nos como foi viver com a fome e racionamento durante os anos de guerra, como eram distribuídas as senhas de alimentação, como eram integradas crianças (refugiados) alemães nas escolas e na pequena comunidade das montanhas... e estes são os relatos úteis para compreender este lado da guerra, era muito mais neste sentido que eu gostava que o livro se orientasse.

Irmgard Albine Hunt recorda ainda a tristeza das famílias na perda de soldados na guerra e relata como estes eram elevados a heróis da pátria, tudo isto produzido por uma máquina de propaganda muito bem oleada.

Ainda nos dá uma perspectiva da ocupação da Alemanha pelas tropas Americanas e de como estas interagiram com o povo da montanha, dos saques às casas dos altos dirigentes das SS que viviam paredes meias com a montanha e refere a descoberta de verdadeiros tesouros nos bunkers da montanha.

Já na recta final do seu relato, Irmgard fala da sua vida na América e de como o povo alemão carrega uma culpa até aos dias de hoje.

Apesar de não ter gostado muito do livro é sempre um bom complemento para poder idealizar mais um lado muitas vezes esquecido das guerras, a vida de um comum.


Uma leitura com o apoio,