«O Rapaz das Fotografias Eternas» mostra toda a genialidade deste escritor. Edson Athayde consegue levar para a escrita todo o seu génio de publicitário e fazer-nos desejar ler e ler este livro até chegarmos ao fim. É impossível pegar e não o terminar, nós só queremos é conhecer cada detalhe, cada habitante, cada história, até damos por nós à procura da vila de Clarabóia no mapa... nós queremos chegar lá!
Apesar de reconhecermos que todo o livro é excepcional, talvez possamos dizer que o melhor é mesmo a forma como as personagens são descritas. Se umas são de uma beleza ímpar, já outras são tão caricatas que damos por nós a rir de tal absurdo. É das partes que mais temos vontade de ler aos outros e de rirmos e divagarmos em conjunto.
Talvez devêssemos começar pela Vila de Clarabóia, trecho de terra numa ilha, habitada então por tais personagens insólitas. É assim que começa o relato, com a descrição da raridade que é aquele pedaço de terra. Uma vila sem chuva criada por um vendedor de guarda-chuvas.
É dentro desta vila, seca, mas muito fértil no seu povo, que começam a aparecer as excêntricas e criativas personagens.
Em «O Rapaz das Fotografias Eternas» temos Pedro, o rapaz que tira fotografias eternas como podem ver no book trailer, ele é a personagem principal e vai-se cruzando com as outras personagens tão ou mais caricatas do que ele.
As 3 Marias, cada uma com a sua mania. Sendo a nossa favorita a Maria, simplesmente Maria!
Um cão chamado Cão que é sempre substituído por outro cão chamado Cão, com uma característica especial, é um cão que percebe os humanos e consegue falar, mas atenção, só fala em Russo. Há também a particularidade de existirem porcos tratados como cães, já que cão é só um!
Temos ainda Alaor um viúvo de uma mulher que nunca nasceu, e que apesar disso ainda a consegue perder, querem saber como? Ora pois tentem, já que nem Alaor talvez tenha percebido bem como.
"A esposa de Alaor nasceu morta. Muitos choraram-na, menos Alaor. E nem poderia. Para isso ele teria que existir, ter sido já concebido, coisa que ainda levaria alguns anos."
"A esposa de Alaor nasceu morta. Muitos choraram-na, menos Alaor. E nem poderia. Para isso ele teria que existir, ter sido já concebido, coisa que ainda levaria alguns anos."
Temos ainda Jonas o louco dançante que dança, dança e dança em frente da Maria apenas Maria. Jonas livrou-se da descendência regida pelos nomes começados por "T", já que o pai sobreviveu após ter sido engolido por uma baleia.
Na disputa das 3Marias, tinhamos Torquato, Túlio, Tibério e Theobaldo e Jonas, sem "T".
Na disputa das 3Marias, tinhamos Torquato, Túlio, Tibério e Theobaldo e Jonas, sem "T".
É nesta vivacidade de personagens e em capítulos galopantes que vamos sonhando juntamente com Maria, rindo com a porca da Socorro ou inventando explicações para as famosas fotografias eternas.
É também com esta panóplia de personagens que o autor nos consegue contar uma historia dramática, mas com um enorme sentido de humor e um lado mais sonhador ainda.
"O estabelecimento em frente vende Lp's de música de baile. O do lado esquerdo, alberga a loja da Flora, cartomante bissexta, que vende cautelas de lotaria e bifanas suspeitas. O do direito tinha sido um bordel, hoje é uma uma daquelas pensões com nome de santo, como que a desculpar-se de antigos pecados."
"O estabelecimento em frente vende Lp's de música de baile. O do lado esquerdo, alberga a loja da Flora, cartomante bissexta, que vende cautelas de lotaria e bifanas suspeitas. O do direito tinha sido um bordel, hoje é uma uma daquelas pensões com nome de santo, como que a desculpar-se de antigos pecados."
Antes de finalizar queremos apontar um ponto negativo, existem algumas personagens que aparecem e desaparecem da historia sem que isso faça muito sentido, podem adocicar o enredo, mas não vemos até que ponto possam contribuir para o avanço da história.
O povo de Claraboia dá origem a um relato meio alucinado, mas que nós adorámos ler. Acreditamos que, numa outra leitura, numa outra fracção de tempo, cada personagem e cada episódio poderá ganhar uma nova aura. É quase como se fosse um sonho, ao qual retomamos e temos sempre nova interpretação.
E as fotografias eternas, o que serão?
O povo de Claraboia dá origem a um relato meio alucinado, mas que nós adorámos ler. Acreditamos que, numa outra leitura, numa outra fracção de tempo, cada personagem e cada episódio poderá ganhar uma nova aura. É quase como se fosse um sonho, ao qual retomamos e temos sempre nova interpretação.
E as fotografias eternas, o que serão?
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