O page turner "A Verdade Sobre o Caso de Harry Quebert" (Edição portuguesa pela Alfaguara/Objectiva) catapultou o autor de 27 anos para a ribalta, fazendo jus à profecia com que começa o seu livro: "Toda a gente falava do livro" E a verdade é que falam mesmo. Com vendas a ascender um milhão de exemplares, eis o livro que destronou "As Cinquenta Sombras de Grey" e que foi negociado por valores superiores aos do Harry Potter e, na opinião dos media, um caso para destronar também, "Inferno" de Dan Brown.
"Um bom livro, Marcus, é um livro que lamentamos ter acabado de ler"
Os críticos reconhecem-lhe traços de Nobokov, de Jonathan Frazen e até Woody Allen ou Philipe Roth. Eu reconheço-lhe uma intriga excepcional, muito bem emparelhada, com capítulos de mestre, páginas e páginas que nos deixam em suspenso, um crime talvez maior que o amor ou talvez seja melhor dizer que o maior crime foi mesmo: amar.
São quase 700 páginas que passam num ápice e que nos envolvem em cada personagem, fazendo-nos por vezes perder o fio à meada, preocupando-nos mais com o que é revelado sobre cada pessoa, do que realmente resolver o mistério de "Quem matou Nola Kellergan?"
"(...) toda a gente sabe escrever, mas nem todos são escritores.
- E como sabemos que somos escritores, Harry?
- Ninguém sabe se é escritor. São os outros que lho dizem."
E creio que a opinião pública e entendida neste tipo de "casos" já disse. Já fez saber que a meta a que aspirava Marcus Goldman é agora a etiqueta de Joel Dicker.
Este romance com traços de policial é um livro dentro de um livro que fala sobre outro livro. Passo a explicar. Temos um livro em mãos "A Verdade Sobre o Caso de Harry Quebert" que nos começa a revelar a pesarosa situação de Marcus Goldman, escritor best seller que tem, necessariamente, que produzir um novo livro. Ora crise de página branca instalada, Marcus parte em busca de auxílio, em busca de uma opinião de mestre. Em tempos foi aluno de outro escritor best seller, agora caído em esquecimento. Harry Quebert, conhecido pelas "As Origens do Mal" volta à ribalta, mas por ser acusado do homícidio de Nola Kellergan, quase 30 anos depois do desaparecimento da jovem.
Não querendo aproveitar-se da situação, mas sentido um dever como amigo, Goldman parte em busca da verdade e indo ele auxiliar Quebert. A sua investigação informal trará à luz do dia segredos e episódios há muito enterrados, mas não esquecidos. É a partir daqui que tudo se complica e se enreda e as reviravoltas são constantes e algumas complexas até.
Se encararmos o livro, sobre como escrever um livro, talvez este seja um manual, grande, complexo, teórico, rebuscado, mas um muito bom exemplar!
Em suma, é um trabalho meticuloso, é um livro com excelente capacidade critica, mas igualmente com elevada tendência para a introspecção. O autor ora nos faz olhar para o mundo e o estado da sociedade actual, como nos pede para olharmos para dentro. É também um enredo com elevado sentido de humor, que nos arranca algumas gargalhadas (talvez do melhor, a "A América é o paraíso do pénis" pág. 91/92), no entanto, não apreciei os diálogos maternais e exagerados entre Marcus e a mãe. Talvez seja o único detalhe negativo.
"- Sabe o que é um editor? É um escritor falhado cujo o pai tinha dinheiro suficiente para poder apropriar-se do talento dos outros."
Vejo o livro como uma manta de retalhos, um emaranhado complexo de traços, de características, de personalidades, de motivos e de cores... no entanto, depois de terminada, faz todo o sentido no seu conjunto. É assim o excelente livro de Joel Dicker.
Saibam mais do autor aqui
Partilho também um artigo do SOL que gostei bastante de ler e aprendi o conceito de page turner
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