Nestes últimos meses, quantas vezes ficaste pregado à tv a seguir atentamente as notícias sobre um novo ataque terrorista?
Quantas vezes sentiste o pânico por ver os ataques acontecer em cidades que te são familiares, em sítios cada vez mais perto de casa?
Quanto tempo achas que vai demorar até Lisboa aparecer no final da frase "atentado terrorista em..."?
Foi com esse pensamento que mergulhei de cabeça no tijolo literário que Nuno Nepomuceno nos traz com este "A Célula Adormecida"
Pela sinopse sabia que o palco seria a cidade que me recebe todos os dias pela manhã, para mais um dia de trabalho. O que não estava à espera era de conseguir visualizar ruas, movimentos, sombras e todos os detalhes de uma história que sobe ao palco em Lisboa e começa com um ataque terrorista em pleno Marquês do Pombal. Acreditem que nunca mais vou olhar para um autocarro da CARRIS com os mesmos olhos.
No mesmo dia em que um homem se faz explodir em pleno centro de Lisboa, uma bandeira do auto proclamado Estado Islâmico é hasteada no cimo do Parque Eduardo VII e como uma desgraça nunca vem só, nessa mesma altura aparece morto o recém eleito primeiro ministro.
Este dia negro para o país é ponto de partida para o mundo de "A Célula Adormecida", um livro que me deixou mais elucidada em termos políticos, que me deu a conhecer aspectos da cultura muçulmana que me eram desconhecidos e que me fez devorar umas centenas de páginas em meia dúzia de dias.
O professor com uma ferida aberta no seu passado, a jornalista da fachada cuidada com o interior que se desmorona, uma família sobrevivente com um pai comedido, uma filha inocente e um filho catalisador.
A visão pelos olhos destes interveniente permite-nos um exercício que acho que não fazemos vezes suficientes, o de nos colocarmos no lugar dos outros. É fácil julgar, tomar decisões precipitadas, alimentar preconceitos com base na ignorância e no medo mas o que é muito difícil é vermos as coisas de um outro ponto de vista que não o nosso.
"A célula adormecida" tem todos os ingredientes para continuar a gerar novas edições. Uma lição de história, actualidade, aceitação, revolta e um sem numero de sentimentos que nos povoam ao longo da leitura.
Não descansei enquanto não o terminei.